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Avenida Brasil: obras do BRT terminam este ano e via poderá ganhar residências

Pistas estreitadas para obra, chuva e carros enguiçados no caminho. A mistura explosiva na Avenida Brasil no rush da tarde de uma quinta-feira de dezembro não poderia ter outro resultado: engarrafamentos quilométricos, nos dois sentidos. Um caos que há sete anos, desde que iniciou a construção do corredor de ônibus Transbrasil, tornou-se constante. O alento é que, se 2022 ainda exigirá paciência, também será decisivo para virar a chave rumo a uma prometida redenção. As intervenções nas vias e estações do BRT devem, finalmente, terminar no segundo semestre.

Antes, em março, um trecho entre Campo Grande e Santa Cruz passa à gestão da iniciativa privada. Enquanto que os planos para livrar da decadência essa que é uma das principais artérias do Rio, como a proposta de uma Zona Franca que permitirá a construção de prédios de até 25 andares em faixas da Zona Norte, entram em fase de debates definitivos na Câmara dos Vereadores, no âmbito da revisão do Plano Diretor do município.

A ambição é que a revitalização da Brasil acelere, diferentemente do que aconteceu com estratégias anteriores. O prefeito Eduardo Paes acredita que as medidas em curso vão calçar a esperada transformação. Mas ressalva que as mudanças são de efeito a longo prazo, segundo ele, da mesma forma que nos projetos para o Centro e o Porto Maravilha.

— Agora está começando a ter lançamentos habitacionais (no Porto). Dizem: ‘O Porto Maravilha não deu certo’. Mas as obras é que eram dentro de um prazo de governo. A recuperação urbana em si, a atividade econômica, isso leva muito mais tempo. Você cria as condições para que aconteça em determinado momento — diz Paes, citando a complexidade da região da Brasil. — O Plano Diretor aponta para uma flexibilização absurda da legislação edilícia (no entorno da avenida). Isso vai permitir uma possibilidade de crescimento. Claro que a gente tem ali o problema da violência, os problemas que a gente conhece. E também temos várias Avenidas Brasil: a mais para a Zona Oeste, com indústrias em volta e ocupação mais ordenada, e o miolo mais da Zona Norte, com muita ocupação irregular e violência.

No mais antigo desses planos em marcha, o Transbrasil (como obras iniciadas em 2014 e que deviam estar prontas desde 2017), a previsão é que no início do próximo ano sejam instaladas novas passarelas, ao passo que as estações ganham seu aspecto final.

Apesar dessas intervenções físicas serem concluídas na segunda metade de 2022, o funcionamento pleno do corredor só ocorrerá, segundo a prefeitura, em dezembro de 2023. Ficará à espera da entrega do Terminal Intermodal Gentileza, nas imediações da Rodoviária Novo Rio e do Elevado do Gasômetro, onde o BRT terá ligações com ônibus convencionais e uma extensão do do VLT. As obras no local, diz o município, começam ainda este mês.

Quando o sistema inteiro estiver operando, a Secretaria municipal de Transportes diz que são esperados serviços partindo dos terminais de Deodoro e do Fundão, além das estações Parada de Lucas e Penha, com destino ao Gentileza e ônibus articulados de 23 metros de comprimento. Num primeiro momento, coletivos convencionais que operam as linhas intermunicipais da Baixada Fluminense com destino ao Centro do Rio também poderão acessar o Transbrasil, mas sem fazer embarque nem desembarque nas estações.

Para o enfermeiro Marcos Santana, morador de Guadalupe e que frequentemente atravessa a Brasil em direção ao trabalho, já é contagem regressiva para dar fim a um martírio que, segundo ele, roubou parte de sua qualidade de vida nos últimos anos.

— Só quando a cidade ficou mais vazia, no auge da pandemia, eu conseguia passar pela Brasil sem tanto congestionamento. Tirando esse período, com as obras na pista, são horas e horas perdidas no trânsito. Não aguento mais — desabafa ele.

Ao longo do corredor é que se pretende implantar a Zona Franca da Brasil, com o intuito de modificar o abandono que caracteriza bairros da Zona Norte outrora pujantes, mas hoje esvaziados. Numa faixa de 500 metros para cada lado da Avenida, explica Valéria Hazan, gerente de Macroplanejamento da Secretaria municipal de Planejamento Urbano, serão estabelecidos parâmetros para construção mais abrangentes, que permitirão o coeficiente máximo de aproveitamento dos terrenos e edifícios de até 25 pavimentos.

A proposta é que as regras valham para Benfica, Guadalupe e um trecho contínuo de Manguinhos até Irajá, passando por regiões como a Maré, com restrições apenas na rota de aproximação do Aeroporto do Galeão e áreas com vista para a Igreja da Penha. O objetivo é atrair empreendimentos imobiliários mistos (com unidades residenciais e comerciais), com estímulo à criação de áreas privadas de uso público e também incentivos para que parte dos novos imóveis seja destinada à locação social.

— É uma aposta para reverter o quadro atual de estagnação. A ideia é adensar, ter mais população residente nos bairros ao longo da Brasil — diz Valéria, explicando que os planos beneficiarão o BRT. — Se há pouca gente trabalhando ou morando no entorno desses equipamentos de transporte, eles têm menor demanda e ficam inviáveis economicamente.

Valéria lembra que o entorno da Avenida integra, no novo Plano Diretor, a chamada Macrozona de Estruturação Urbana: áreas com ampla infraestrutura de modais de transporte e que se pretende adensar, o que inclui arredores dos ramais de trens e das linhas de metrô.

No caso da Zona Franca, Maria Luiza Korenchender, gerente de Planos Locais da Área de Planejamento (AP) 3, ressalta que, ao se traçar 500 metros a cada lado da Brasil, os novos parâmetros valerão também para ruas internas dos bairros, chegando, às vezes, à proximidade da linha férrea. Na avaliação dela, áreas como Bonsucesso, Ramos, Penha e Olaria devem ter a maior potencialidade de atrair empreendimentos. A expectativa é de que até o fim de 2022 sejam concluídos os trâmites na Câmara sobre o Plano Diretor e que, em 2023, as novas regras para a Brasil comecem a valer.

Já para o trecho mais afastado do Centro, na Zona Oeste, os investimentos devem vir do Grupo CCR, vencedor do leilão para a nova concessão das rodovias Presidente Dutra e Rio-Santos, num pacote que abrange também cerca de nove quilômetros da Brasil do entroncamento com a BR-465 (a antiga Rio-São Paulo), em Campo Grande, até Santa Cruz. É justamente onde as condições das pistas são mais precárias. Asfalto irregular, falta de sinalização e canteiro central tomado pelo mato são apenas alguns dos perigos para os motoristas. O Grupo CCR diz qjue, somente após assumir o trecho, em março, a empresa poderá responder pelos serviços que serão realizados.

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