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Baixista que encantou Spike Lee, Lenny Kravitz e Slash toca no Rio neste sábado

SÃO PAULO – O baixista paulistano Fernando Rosa está sentado na área externa do Blue Note , na Avenida Paulista, onde em outubro fez seus dois primeiros shows como artista solo em mais de 20 anos de carreira — ambos com ingressos esgotados, tendo na plateia nomes como Baby do Brasil e Paula Lima. Enquanto isso, na tela do celular, em sua conta do Instagram @fernandorosabass, estão seguidores e mensagens que o artista se enche de orgulho para mostrar, com o entusiasmo de quem apresenta uma estante de prêmios. Na rede social, com um cenário montado em casa, figurino assinado por ele e baixo plugado em alto volume, Rosa faz desde o início da pandemia releituras performáticas e contagiantes de clássicos e lados B da funk music, soul, rock… São vídeos caseiros que extrapolam a marca de milhões de visualizações.

A lista de famosos entre os mais de 400 mil seguidores e fãs do paulistano nascido, criado e ainda baseado na Zona Leste, na região de Itaquera, impressiona. Por exemplo, o aclamado cineasta Spike Lee segue apenas cinco contas no Instagram: uma delas é de Fernando Rosa. O diretor assistiu a uma live do baixista e elogiou seu trabalho “com as mãos e com os pés”, enquanto o assistia tocando uma música do Kansas. Antes disso, em julho, o roqueiro Lenny Kravitz já tinha mandado uma mensagem direta dizendo “irmão, nós temos que tocar juntos”. Duff McKagan, ele próprio um baixista consagrado e integrante do Guns N’ Roses, manda recados semanais para Rosa: já pediu aulas de baixo para funk music, elogiou figurinos, quis dicas para comprar novos baixos e para trocar as cordas. Companheiro de banda de McKagan, o guitar hero Slash tem apenas quatro vídeos publicados em sua conta na rede social, sendo um deles Fernando Rosa numa performance de “Disco inferno”, do The Trammps.

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E os seguidores-celebridades seguem por astros pop como Adam Levine, apresentadores de TV, atores de seriados e esportistas americanos, aos brasileiros Chico César, Liminha e Tulipa Ruiz.

— Se isso tivesse acontecido quando eu era mais jovem, eu estaria louco, deslumbrado — admite Rosa, que antes da explosão digital ganhava a vida como músico de apoio (fez turnês com Ed Motta, integrou O Teatro Mágico, rodou com Sammy Figueroa pelos Estados Unidos, gravou com Kell Smith…) e recentemente fez uma live de fim de ano para funcionários da empresa Meta (ex-Facebook) na qual falou sobre como o Instagram mudou sua vida.

Até então, Rosa nem vislumbrava a ideia de ter um show próprio, muito menos fama ou ver seu nome em cartazes de casas tradicionais no Brasil e no mundo — ele tem datas esgotadas no tradicional Jazz Café, em Londres, no começo de março, e logo termina de vender os ingressos restantes da apresentação no New Morning, em Paris. Hoje, às 20h, ele estreia no Rio, no Teatro Prudential, e volta a tocar em São Paulo (na Bourbon Street) dia 28, além de ter um compromisso no Rio em 26 de março, quando abre o show da cantora Iza no projeto Noites Cariocas, no Morro da Urca.

— Me deram uma data no Jazz Café, em Londres, sem eu nem ter um show, disco gravado, nenhuma música rodando. Não me perguntaram se eu tinha show. Esgotei duas datas lá e pediram uma terceira, que deve esgotar logo — aposta ele, que na turnê europeia terá como convidado especial Derrick McKenzie, baterista e produtor do Jamiroquai. — A mesma coisa em Paris, no New Morning, que o programador disse que o público estava pedindo nas redes. Fui aceitando de besta. Depois, vi que não dava conta de fazer tudo sozinho e fechei com empresário, equipe…

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O maior ponto de virada, lembra ele, foi quando postou em março passado um vídeo tocando “Everybody dance”, clássico de 1977 do Chic. Então baixista e cofundador do grupo, Bernard Edwards, morto em 1996, tinha um jeito muito peculiar de tocar, usando dois dedos como se fossem uma paleta. Depois de meses estudando a técnica através de vídeos na internet, Rosa finalmente conseguiu replicá-la de forma confortável (“isso é raríssimo”, garante), e tornou o número público num clipe de 30 segundos. O vídeo hoje tem mais de 4 milhões de visualizações e foi fundamental para que seus 50 mil seguidores virassem 400 mil — 70% deles estrangeiros, e o artista jura não ter investido um real para impulsionar os vídeos no Instagram.

— Comprei um terno verde dos anos 1970 exclusivamente para essa música do Chic. Estudei meses para tocar esses 30 segundos naquele flow. Existe um comprometimento, uma dedicação que nem todo mundo vê. Depois, o baixista atual do Chic, Jerry Barnes, veio falar comigo que nem ele consegue tocar igual ao Bernie, mas que eu consigo — orgulha-se o músico, que também conta ter recebido agradecimentos de músicos “esquecidos” pelo mercado, como a cantora r&b Melba Moore, por recuperar o interesse em sua obra no streaming a partir de um vídeo.

No show solo, que batizou de “Alive”, Fernando Rosa adota uma configuração curiosa. Black power nos trinques, figurino setentista trajado, ele fica no centro do palco tocando e dançando com seu baixo, tornando o instrumento protagonista das músicas, como acontece em seu Instagram. No repertório, um baile de funk, pop e disco music, com clássicos de Stevie Wonder, Jackson Five, Earth, Wind & Fire, James Brown etc. Enquanto isso, é acompanhado apenas por um pianista e um baterista. Os demais instrumentos, inclusive os vocais, são disparados em suas versões originais, enquanto televisões ao fundo exibem registros televisivos dos ídolos que as gravaram.

A ideia, justifica Rosa, é replicar no palco o que o tornou famoso no Instagram. Ou melhor: entregar o que o público quer ver.

— As pessoas me conhecem do Instagram, então levei para o palco uma versão estendida dele. Elas querem me ver de black, tocando funk e tirando onda. O que um DJ faz? Põe um pickup e toca músicas dos outros. Eu estou fazendo isso, mas como uma pickup viva, ambulante, tocando dentro dela. Se eu tocasse com bandão, seria só mais um fazendo um tributo tradicional, como tantos outros aqui (no Blue Note).

Enquanto se desdobra para dar conta das atualizações em seu Instagram (ele publica novos vídeos quase que diariamente) e dos inúmeros compromissos comerciais surgidos pelo sucesso, Fernando Rosa ainda pensa em aproveitar os holofotes para apresentar criações próprias. Até porque, atualmente, ele não está nas plataformas de streaming:

— É um projeto futuro, mas desejo muito ter um trabalho autoral. A ideia é fazer um disco com músicas minhas e convidados especiais, brasileiros e internacionais. Algo como fazem Santana e Nile Rodgers.

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