Asia

Criança sobrevive a massacre em creche na Tailândia dormindo debaixo de cobertor

Por Jiraporn Kuhakan e Poppy McPherson

UTHAI SAWAN, Tailândia (Reuters) – Uma criança de três anos que conseguiu sobreviver ao massacre da semana passada em uma creche no nordeste da Tailândia estava dormindo debaixo de um cobertor no canto de uma sala de aula, enquanto as cenas de horror aconteciam.

Paveenut Supolwong, apelidado de “Ammy”, normalmente tem sono leve, mas na hora da soneca na quinta-feira, quando um assassino invadiu o berçário e começou a matar 22 crianças, Ammy dormia profundamente com o cobertor cobrindo o rosto, disseram seus pais. Provavelmente isso salvou a vida dela.

Ela foi a única criança a escapar ilesa depois que o ex-policial Panya Khamrap matou mais de 30 pessoas, a maioria crianças no berçário, no massacre ocorrido na cidade de Uthai Sawan.

“Estou em choque”, disse a mãe de Ammy, Panompai Sithong. “Sinto por outras famílias… Estou feliz que minha filha tenha sobrevivido. É um sentimento misto de tristeza e gratidão.”

No domingo, a casa de madeira da família estava movimentada com parentes e vizinhos compartilhando pratos de peixe, salada de mamão e reflexões sobre a tragédia, enquanto ela brincava no quintal com um vestido florido e um amuleto amarrado em volta do pescoço.

Os pais de Ammy disseram que ela parece não se lembrar da tragédia. Alguém a encontrou se mexendo em um canto distante de uma sala de aula, depois que o assassino saiu, e a carregou com a cabeça coberta pelo cobertor para que ela não visse os corpos dos coleguinhas.

Das 22 crianças esfaqueadas até a morte, 11 morreram na sala de aula onde Ammy estava cochilando, segundo a polícia. Duas outras crianças estavam no hospital com ferimentos graves na cabeça.

MOMENTO RARO DE ALEGRIA

Na tarde de domingo, a família sentou-se em círculo enquanto um líder religioso lia um livro de orações em sânscrito, conduzindo uma cerimônia budista para crianças que passam por experiências ruins.

Ammy sentou-se pacientemente no colo de sua mãe, olhando em volta timidamente com olhos grandes e brincando com duas velas que segurava.

Parentes espirravam vinho de arroz uns nos outros e gritavam votos de boa sorte.

Eles encheram os pulsos minúsculos de Ammy com fios brancos para dar sorte, beliscando suas bochechas e sussurrando bênçãos. Foi um raro momento de alegria em uma cidade mergulhada na dor.

Depois do massacre no berçário, Panya atirou sua caminhonete contra os pedestres na rua e atirou nos vizinhos em um rompante de duas horas. Por fim, ele matou a mulher com quem morava, o filho dela e a si mesmo.

Na comunidade unida, poucos ficaram inertes ao acontecimento.

Desde a madrugada de domingo, as famílias das vítimas se reuniram nos templos onde os corpos estão sendo mantidos em caixões. Eles trouxeram guloseimas para as almas dos mortos, de acordo com as tradições locais, incluindo comida, leite e brinquedos.

No final do dia, se sentaram para uma cerimônia budista no berçário, onde os enlutados deixaram guirlandas de flores brancas e mais presentes.

Na casa de Ammy, sua mãe disse acreditar que os espíritos protegeram sua filha.

“Minha filha não tem sono pesado”, disse Panompai. “Acredito que deve haver alguns espíritos cobrindo seus olhos e ouvidos. Temos crenças diferentes, mas para mim, acho que protegeu minha filha.”

Outro parente disse à mídia local que a sobrevivência de Ammy foi um “milagre”.

Mas a família teve que dar a ela a notícia de que seu amado melhor amigo, Techin, de dois anos, e seu professor estavam mortos. “Ela estava perguntando à avó: ‘Por que você não busca Techin na escola?'”, disse Panompai.

Ela ainda não sabe a extensão da tragédia que viveu.

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