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Kevin Costner dá novo fôlego ao western com ‘Yellowstone’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Nunca me senti confortável usando gravata”, conta Kevin Costner, 67, que aparecia assim, todo engomadinho, em um de seus maiores sucessos comerciais: o filme “O Guarda-Costas” (1992). Também foi assim em “Os Intocáveis” (1987), “JFK: A Pergunta que Não Quer Calar” (1993) e em várias outras produções ao longo de seus quase 45 anos de carreira.

Porém, foi se sujando de poeira que o ator americano recebeu suas melhores críticas. Em 1991, ele ganhou dois Oscars (o de ator e o de diretor) por “Dança com Lobos” (1990), considerada à época a obra que revitalizaria o western em Hollywood. Após o hype inicial, os estúdios foram novamente perdendo interesse pelo gênero. E é aí que entra Costner de novo.

Desde 2018, ele encabeça o elenco de “Yellowstone”, cuja 5ª temporada chega ao Brasil no domingo (11) pelo serviço de streaming Paramount+. Na trama, ele interpreta John Dutton, o patriarca responsável pela operação do rancho com maior extensão territorial dos Estados Unidos.

Em seu país de origem, a série se tornou a mais vista da TV –feito ainda mais impressionante se levado em consideração que a exibição é em um canal a cabo. Apesar da popularidade, a produção é frequentemente ignorada nas principais premiações, além de ter relativamente pouca repercussão em outros países -o Brasil incluído.

Seria essa uma história americana demais para o público internacional? Costner acredita que não. “Eu já vi fazendas enormes no Brasil e na Argentina, tenho certeza de que muitos outros países têm latifúndios ainda maiores que os nossos”, comenta. “É um tema que interessa às pessoas.”

O astro, que pretende voltar a dirigir filmes em 2023 -de preferência um western clássico, segundo conta-, diz que ouve todo tipo de reação dos cowboys de verdade que já encontrou depois que começou a fazer a série. “Alguns dizem que é bem próximo do que eles vivem, enquanto outros falam que não tem nada a ver”, comenta. “Não sou juiz para arbitrar, o que sei é que é um tipo de trabalho que ainda é feito todos os dias, de sol a sol, sem folgas, e no lombo de um cavalo em muitos lugares. Isso ainda é uma realidade.”

Para o ator, muita gente também aproveita a série para fugir um pouco do que sempre está disponível na TV. “Temos muitos filmes sobre o sistema de justiça, dramas policiais ou hospitais, mas poucas e esparsas produções em que podemos ver cavalos correndo, montanhas e rios”, explica. “Nem tudo tem que parecer um beco ou um tribunal. Esses outros lugares também existem, e as pessoas querem ver.”

Claro que isso não seria suficiente se a história não criasse algum tipo de conexão com as pessoas. “Meu personagem diz coisas que muitos homens gostariam de dizer”, avalia ele. “Vivemos em um mundo em que, se você tiver um problema com o seu vizinho, não pode ir lá mandá-lo parar com aquilo; hoje, temos que ir atrás de um advogado para fazer isso. Temos muitas pessoas para arbitrar os nossos problemas atualmente, e acho que os homens, de uma forma meio visceral, gostariam de poder resolver algumas coisas sozinhos.”

Ele ressalta, no entanto, que a forma como John enfrenta os problemas de sua propriedade é bem diferente da que seus antepassados usariam. “Antes era na bala”, lembra. “Agora, ele precisa lidar com políticos ambientalistas e também com uma família que talvez não queira continuar tocando o rancho, coisas com que o avô dele jamais precisaria se preocupar. Então, às vezes, é frustrante para ele.”

Isso porque John vem de uma longa linhagem de donos de terras naquela região -duas séries derivadas, “1883” e “1923”, são estreladas por seus antepassados. “Os conflitos por terra sempre existiram”, comenta Costner. “A quem ela pertence?”

“Antigamente, se você era um cidadão de segunda classe, se não fazia parte da realeza, você não tinha nada, e o seu futuro já estava selado”, afirma. “Mas quando você vinha para a América era como se fosse um jardim do Éden. Não tinha nada aqui, só os nativos, que tinham outra relação com a terra. Então as pessoas se apegavam rapidamente ao fato de que se fossem duronas o suficiente, podiam dizer que aqui não havia leis e que aquele pedaço de terra era delas. Foi assim que este país foi sendo estabelecido pelas pessoas.”

Na série, os conflitos agrários são entremeados pelos dramas pessoais da família liderada por John. No caso de seu personagem, o ator conta que se trata de alguém que já passou por poucas e boas, o que se reflete em sua personalidade. “Acho que ele provavelmente está cansado de passar a vida inteira brigando”, diz.

“Ele está ciente das dores que causa nos filhos, mas acho que muito disso vem do fato de ele não ter uma parceira na vida”, reflete. Costner chegou a compor e a gravar com sua banda a música “Wont’t Stop Loving You” (nunca deixarei de te amar), sobre como se sentia quando estava vivendo o personagem. “Se a mulher dele estivesse viva, talvez muitas das dificuldades pelas quais ele está passando não existiriam”, afirma. “Provavelmente, ele não foi muito bom criando os filhos sozinho, apesar de ter feito o melhor que podia.”

Sobre por quanto tempo ainda gostaria de interpretar John Dutton, ele desconversa. “Para mim, as coisas terminam naturalmente, e nunca sei exatamente quando é isso”, afirma. “Não sou o autor da história, mas, na minha cabeça, vou querer continuar enquanto for interessante. É um bom salário, mas não me guio apenas por isso. Se não, sinto que estaria renegando a minha própria vida.”

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