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A necessidade e a inventividade que move quem empreende

Das esquinas país afora ao universo das redes sociais, passando pelo interior das empresas e até dentro do transporte público, brasileiros sempre mostraram que entendem da alma dos negócios. E o interesse vem crescendo: desde 2019, foram abertos em média 3 milhões de pequenas empresas por ano. Por trás desse movimento, cresce a figura do empreendedor por necessidade, que busca outra forma de sustento fora do mercado de trabalho formal, enquanto a guinada tecnológica aumenta a influência dos novos hábitos de consumo no comportamento do setor.

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A partir de 2020 foram abertos 3,3 milhões de microempresas, empresas de pequeno porte e microempreendimentos individuais, de acordo com levantamento feito pelo Sebrae em 2022. Esse crescimento, porém, foi acompanhado de alta informalidade e taxa de desemprego crescente, em decorrência da crise econômica durante a pandemia da Covid-19.

Facilidade com o MEI

Nesse cenário, a necessidade de abrir um negócio com pouca burocracia e baixos custos leva muitos brasileiros a optar pelo MEI, que hoje representa quase 60% de todos os negócios abertos no país, de acordo com o Mapa das Empresas do governo federal referente ao primeiro quadrimestre deste ano. Na avaliação do reitor do Ibmec e doutor em Administração Samuel Barros, a necessidade é o principal motor dos empreendedores:

— O MEI é escolhido pela facilidade de abertura e por ser fácil de ser regularizado, além de permitir cadastros em programas sociais oferecidos pelo governo federal, como o auxílio-doença. Ainda garante um acesso mais barato a formas digitais de pagamento e a cartões de crédito.

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Os efeitos do cenário econômico se refletem no perfil da maioria que empreende no Brasil: jovens de 18 a 30 anos, com ensino médio completo ou ensino superior incompleto, especializados no que fazem. São os segmentos mais afetados pela redução do número de vagas no mercado de trabalho formal, ou que não conseguem alocação por baixa capacitação.

As dificuldades econômicas, aliadas à flexibilidade do home office, também levaram mulheres a buscar espaço. Levantamento do Sebrae mostra que representam uma em cada três donos de pequenos negócios abertos no país entre janeiro e outubro. Em grande parte, associados a temáticas como beleza e bem-estar:

— Vemos a ascensão de mulheres pela facilidade do home office na hora de conciliar a dupla jornada, para também cuidar da casa — afirma a coordenadora do curso de Administração da ESPM, Frederike Mette. — São profissões normalmente caracterizadas por mulheres, tanto na oferta quanto na demanda de produtos.

Mudança de hábitos

Foi na pandemia que mudanças nos hábitos de consumo de produtos e conteúdos passaram a dar uma nova cara para os pequenos negócios, com foco em personalização de itens e digitalização do processo de venda.

Com a ascensão do segmento de bem-estar, beleza e saúde, associada à crescente preocupação com os cuidados pessoais no isolamento social, o quarto ramo com maior número de empresas abertas neste ano é o de cabeleireiros, manicures e pedicures: 104 mil empresas.

A gerente de Conhecimento e Competitividade do Sebrae Rio, Margareth Carvalho, explica que clientes passaram a prestar mais atenção em marcas com propósitos como reflexo do momento em que viviam, de buscar maior qualidade de vida:

— Já fazemos recomendações a setores tradicionais para que tentem agregar valores como sustentabilidade, empreendedorismo social e diversidade, que se tornaram ativos muito importantes aos consumidores.

Essas mudanças no comportamento passaram a ser influenciadas por novas ferramentas, como as redes sociais e o e-commerce, que impulsionaram os empreendimentos para o meio digital. Há um mercado crescente de negócios “nativos digitais”, que não começaram com uma loja física ou sequer têm um ponto de vendas.

Com algoritmo e a inteligência artificial, donos de empresas podem mapear melhor os interesses do público, além de criar um canal de vendas atraente. As escolhas migram para as redes sociais, que oferecem suas próprias “vitrines”.

Os pequenos negócios precisam se tornar centrados na experiência do cliente como um dos principais ativos, conforme Frederike Mette, da ESPM.

— Precisam estar atentos desde o pré-venda, com informações de produtos e serviços ofertados, ao pós-venda, para chegar ao grau de satisfação com a compra. Dificilmente um empreendimento que não vai olhar essa jornada de compra vai ser bem-sucedido, especialmente se nasceu na internet.

Vantagens no crédito

O reaquecimento da economia brasileira neste ano traz um cenário mais otimista para o empreendedorismo em 2024. Com a redução da taxa básica de juros, a Selic, de 13,75% para 12,75%, e a inflação convergindo para a meta, de até 4,75% no ano, há estímulo para o consumo, com o aumento do poder de compra da população. Para os negócios, a queda da Selic abre espaço para oportunidades mais vantajosas de tomar crédito.

— As linhas de financiamento ficam mais atrativas. Isso se reflete no crescimento estável do saldo do empreendedorismo desde 2022, com mais empresas abertas que fechadas por ano — explica Frederike.

Para especialistas, esse cenário vantajoso vislumbrado para os próximos anos deve estimular mais o mercado de serviços voltados para saúde e bem-estar, que deslancharam no pós-pandemia. Entre eles, a busca por alimentação mais natural, produtos veganos e marcas que zelam pela sustentabilidade de seus produtos. Nesse nicho, os serviços voltados para saúde mental devem ganhar particular projeção diante das discussões levantadas sobre transtornos mentais, avalia Frederike.

Margareth Carvalho, do Sebrae Rio, acredita que a personalização de serviços de acordo com as demandas dos clientes deve ganhar mais tração no próximo ano. Há, explica, a demanda represada por viagens, mas com uma nova roupagem — agora, os consumidores vão procurar o turismo com pacotes estilizados e que ofereçam experiências únicas. Além disso, ela afirma que empreendimentos ligados a tecnologia, em ascensão nos últimos anos, devem continuar cada vez mais no radar de quem quer abrir um pequeno negócio.

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