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Disputa dos ex-aliados Waguinho e Canella afeta serviços públicos de Belford Roxo

O racha na Câmara dos Vereadores de Belford Roxo deflagrou discursos acalorados e brigas no plenário, mas não parou por aí: seus efeitos são sentidos pela cidade da Baixada Fluminense e chegaram à capital federal. Nas últimas semanas, quando a disputa se intensificou, o Diário Oficial do Município passou a ser recheado de exonerações de indicados por antigos aliados — agora rivais — do prefeito Wagner dos Santos Carneiro (Republicanos), o Waguinho.

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Em apenas um decreto neste mês, a prefeitura demitiu 442 contratados da Secretaria de Educação, o que acabou impactando no funcionamento de escolas e deixando crianças com meio período de aulas. Na oposição estão vereadores e aliados do deputado estadual Márcio Canella (União), pré-candidato à sucessão de Waguinho no próximo ano.

A prefeitura admite que as demissões causaram problemas, mas diz remanejar profissionais e que não há mais unidades funcionando em meio período. O município não explicou por que demitiu grande número de funcionários no meio do ano letivo e informa que, “caso seja necessário, as aulas serão repostas”.

— Aconteceu da noite para o dia. Teve merendeiro, inspetor e até mediador de crianças com deficiência mandados embora. Nós não lidamos com mercadoria. Transformamos vidas — disse um dos exonerados, que, por medo de retaliação, pediu para não se identificar.

Viagens a Brasília

Com 483 mil habitantes, emancipada há apenas 33 anos, Belford Roxo ganhou destaque na política nacional quando Waguinho tornou-se o principal articulador da campanha de Lula (PT) na Baixada em 2022. O prefeito, então, passou a frequentar mais a capital federal. Em todo o ano passado, Carneiro foi a Brasília nove vezes. Já entre janeiro e agosto deste ano, foram 25 viagens. É quase o dobro das idas do governador Cláudio Castro (PL) e do prefeito do Rio Eduardo Paes (PSD) a Brasília somadas — 14 vezes.

Aos cofres públicos, as viagens de Waguinho em 2023 custaram R$ 69 mil. Oficialmente, foram justificadas para “tratar de assuntos diversos em órgãos da União”. Mas, em suas redes sociais, o prefeito de Belford Roxo, que também é o presidente estadual do Republicanos, exaltou agendas políticas, como o encontro com o correligionário e deputado federal Marcelo Crivella, no qual destacou conversas sobre a política no estado e o “crescimento do partido” no Rio. Sua mais longa estadia paga por Belford Roxo aconteceu no início de junho, por quatro dias, quando negociava a permanência da sua mulher, Daniela do Waguinho, como ministra do Turismo.

Em nota, o prefeito se defendeu dizendo que suas visitas “são norteadas pela busca de recursos para investimentos em diversas áreas”.

Sem acordo

Após ser alçado na política fluminense, ele rompeu a aliança com o deputado estadual Márcio Canella, que foi eleito seu vice-prefeito em 2016. Juntos na campanha do ano passado, Canella e Daniela do Waguinho foram os mais votados no Rio para deputados estadual e federal, respectivamente: somaram quase 395 mil votos. Em março, Waguinho avisou a Canella que não o apoiaria como seu sucessor. Seu plano é conseguir eleger o sobrinho, Matheus Carneiro, secretário Municipal de Gestão e Inovação.

No mês passado, o prefeito tentou mudar a Lei Orgânica do Município e permitir que seu aliado Armandinho Penelis (MDB) continuasse na presidência da Câmara de Vereadores no ano que vem. A manobra fez com que o prefeito perdesse a maioria no Legislativo municipal — segundo acordo anterior, em 2024 um aliado de Marcio Canella assumiria a presidência.

A tentativa de mudar a sucessão na Câmara foi feita um dia depois de Waguinho ser notificado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) de parecer prévio contrário a suas contas de 2022. Técnicos encontraram, entre outras irregularidades, a má aplicação de R$ 2 milhões de recursos do Fundeb, recurso federal destinado à Educação.

Além das contas, que, se rejeitadas pelos vereadores, deixarão Waguinho inelegível por 8 anos, o controle da Câmara é importante no ano pré-eleitoral, quando serão votados o orçamento de R$ 1,2 bilhão da cidade, entre outros projetos de interesse do Executivo.

Em nota, Waguinho argumenta que desejar uma candidatura é direito de qualquer cidadão no regime democrático. Ao EXTRA, Canella afirmou ser pré-candidato à prefeitura e que esperava o apoio do ex-aliado. Ele lembrou que seu irmão Marcelo Canella é o atual vice-prefeito.

— Eu participei desde janeiro de 2016 quando fui eleito também vice-prefeito e toquei grandes obras na cidade — disse Canella.

Em rounds mais recentes da intrincada disputa política na cidade da Baixada, o plenário da Câmara dos Vereadores foi palco de sessões com energia interrompida, brigas e até suspeita de bomba no carro de um secretário — que na verdade era um GPS rastreador. Políticos locais temem a escalada de violência. Vereadores passaram a andar de carros blindados, evitam fazer os mesmos caminhos e recorreram a seguranças particulares.

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