Internacional

Deputado brasileiro George Santos tem mandato cassado nos EUA em votação histórica

O deputado americano de origem brasileira George Santos teve seu mandato cassado no Congresso dos Estados Unidos após uma votação bipartidária histórica nesta sexta-feira, 1º. O legislador que representava Nova York ganhou destaque após as eleições de meio de mandato do ano passado quando jornais americanos revelaram uma série de mentiras e fraudes que lhe renderam 23 acusações federais.

A medida consolidou Santos, que ao longo de sua curta carreira política inventou ligações com o Holocausto, o 11 de setembro e o tiroteio na boate Pulse em Orlando, a um lugar genuíno na história: ele é a primeira pessoa a ser removida do Congresso sem primeiro ser condenado por um crime federal. Esta é a quinta vez que a Câmara americana cassa um congressista, e a última foi há mais de 20 anos.

A votação, que exigia uma maioria de dois terços, foi aprovada com 311 legisladores a favor da cassação, incluindo 105 republicanos, e 114 contra.

O político saiu da Câmara antes do término da votação. Descendo os degraus da Câmara até um carro que o esperava, Santos disse aos repórteres que estava pronto para virar a página do Congresso. “Por que eu iria querer ficar aqui?” ele disse. “Para o inferno com este lugar.”

Ao ser abordado do lado de fora do prédio do Capitólio, ele respondeu: “Quer saber? Como oficialmente já não sou mais membro do Congresso, não preciso mais responder uma única pergunta a vocês”, disse Santos, enquanto seu carro se afastava imediatamente.

O brasileiro enfrenta 23 acusações criminais federais, incluindo fraude, lavagem de dinheiro, falsificação de registros e roubo de identidade agravado. Ele se declarou inocente dessas acusações.

No Brasil, ele confessou o crime de estelionato no qual era investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro e fechou um acordo de não persecução penal com o órgão. Santos concordou pagar cerca de R$ 10 mil a instituições de caridade e R$ 14 mil à vítima do crime, ocorrido em 2008.

A Promotoria do Rio investigava o uso de cheques sem fundos por George Santos para comprar roupas em uma loja em Niterói. Santos teria roubado da bolsa da mãe um talão de cheques de um idoso que ela cuidava e gastado R$ 2.144 à época. O caso foi arquivado em 2011 porque a Justiça brasileira não conseguiu localizar Santos, que estava morando nos EUA. O caso foi reaberto em janeiro deste ano após as revelações sobre as mentiras do então deputado eleito.

A sua cassação coloca fim a uma das odisseias políticas mais turbulentas da história recente americana, uma surpreendente reviravolta na sorte de um outsider da política dos EUA cuja eleição em Long Island e Queens no ano passado foi anunciada como um sinal do ressurgimento republicano.

Em vez disso, Santos se tornou um passivo do Partido Republicano, cuja vasta rede de mentiras e delitos levou muitos a questionar como é que ele conseguiu escapar à responsabilização durante tanto tempo.

Vaga em aberto

Durante os debates, foram citados diversas vezes o uso de fundos de campanha para tratamentos de botox, até mesmo por aqueles que o defendiam. Foram apontadas ligações inventadas com o Holocausto e para as suas afirmações, contrariadas pela documentação, de que a sua mãe esteve no World Trade Center no dia 11 de Setembro.

“George Santos é um mentiroso que usou a sua posição de confiança pública para se beneficiar pessoalmente desde o primeiro dia”, disse o deputado Anthony D’Esposito, republicano de Nova York que é o vizinho mais próximo de Santos no Congresso e o inimigo mais fervoroso.

Mesmo com o acúmulo de acusações criminais, Santos, 35 anos, parecia prestes a escapar de sua responsabilidade, sobrevivendo a dois esforços anteriores de expulsão graças à influência do atual presidente da Câmara, Mike Johnson, da Louisiana, e de seu antecessor, Kevin McCarthy, da Califórnia.

Eles não queriam perder o voto de Santos ou correr o risco de perder seu assento para um democrata em uma eleição especial. E expressaram o que se tornou o cerne da defesa de Santos: expulsá-lo antes de ser condenado ou considerado culpado pelo Comitê de Ética da Câmara abriria um precedente perigoso.

Mas depois de a comissão ter divulgado um relatório contundente de 56 páginas no mês passado, que classificou a candidatura de Santos como uma fraude de longa data que ele explorou para lucro pessoal, a maré política começou a mudar.

De acordo com a lei de Nova York, uma vaga na cadeira de Santos exigiria que a governadora Kathy Hochul convocasse uma eleição especial dentro de 10 dias após, que tem de ser realizada dentro de 70 a 80 dias após a convocação. Espera-se que ela convoque a eleição para fevereiro.

A campanha pela vaga em 2024 já foi extremamente acirrada e deu aos republicanos a maioria apertada que retêm hoje. Uma vaga também daria aos democratas a oportunidade de virar a cadeira enquanto os partidos lutam pela maioria na Câmara no ano que vem. O presidente Joe Biden venceu o distrito de Santos – o 3º Distrito Congressional de Nova York – por mais de 10 pontos percentuais em 2020.

Santos declarou imediatamente na época que não buscaria a reeleição. Democratas e republicanos apressaram-se a condená-lo, incluindo o presidente republicano do Comité de Ética da Câmara, que pessoalmente agiu para que Santos fosse destituído do cargo.

As expulsões do Congresso americano são extremamente raras. Apenas cinco membros da Câmara foram cassados na história: Três legisladores foram expulsos em 1861, no início da Guerra Civil, por lutarem pela Confederação. O deputado Michael Myers (Democrata da Pensilvânia) foi expulso em 1980 depois de ser condenado por suborno, e o ex-deputado James Traficant (Democrata de Ohio) foi expulso em 2002 após ser condenado por extorsão, suborno e fraude.

A votação de hoje ocorre 14 meses depois que o North Shore Leader, um jornal local de Long Island, relatou um aumento suspeito e “inexplicável” no patrimônio líquido de Santos quando ele ainda era candidato ao Congresso. Meses depois, em dezembro, o New York Times noticiou que Santos – então um representante eleito – havia fabricado grande parte de seu currículo e biografia. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

To Top