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Produtor de Taylor Swift, Jack Antonoff volta ao disco com o grupo Bleachers: ‘Sempre acho que tenho todo o tempo do mundo’

Este ano, no qual por sinal completa 40 anos de idade (no próximo dia 31, para ser exato), o cantor, compositor, multi-instrumentista e — sobretudo — produtor Jack Antonoff decidiu: vai se dedicar prioritariamente ao Bleachers, a banda que montou dez anos atrás, depois que o Fun (grupo do hit “We are young”, de 2012) entrou em recesso por tempo indefinido. Sexta-feira passada, o Bleachers lançou seu quarto álbum, que leva o nome da banda, e agora sai em uma turnê que inclui shows nos dias 13 e 20 de abril no festival Coachella, na Califórnia (onde também estará a brasileira Ludmilla).

— Este ano quero fazer muitos shows e chegar até o Brasil, este é o meu objetivo — diz Antonoff em entrevista por Zoom para divulgar “Bleachers”, um disco de pop sofisticado que revela o lado mais pessoal do cara que, de 2020 a 2024, ganhou seguidamente o Grammy de produtor do ano, pelo trabalho em álbuns de Taylor Swift e Lana Del Rey.

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Enquanto isso, Jack Antonoff não esconde a satisfação de voltar aos Bleachers, com os amigos Zem Audu, Mikey Freedom Hart, Sean Hutchinson, Mike Riddleberger e Evan Smith (todos multi-instrumentistas), e soltar mais um disco:

Este ano, inclusive, ele entrega os novos álbuns de Taylor (“The tortured poets department”, a ser lançado em 19 de abril) e de Lana (“Lasso”, com toques de música country, prometido para setembro).

— A sensação é aquela de quando enfim você diz algo que queria dizer há muito tempo. Acho que a melhor palavra que consigo pensar (para descrevê-la) é “leve”.

Produtor de discos de outras cantoras de sucesso, como Lorde (é dele a assinatura sonora do aclamado álbum “Melodrama”, de 2017) e St. Vincent, Antonoff conta que não precisou abdicar de nenhuma tarefa para se concentrar em “Bleachers”.

— Minha vida não é tão programada quanto parece, eu costumo ir ao estúdio todos os dias e trabalhar em qualquer coisa que me sinta compelido. Então estou sempre compondo música para mim mesmo — revela. — Mas se isso tudo que eu componho se transformará em um álbum ou não, essa é uma outra questão. De qualquer forma, nunca sinto que não tenha tempo para fazer tudo. Na verdade, sempre acho que tenho todo o tempo do mundo. Não sei por que, mas eu acho.

O que não quer dizer que ele seja um compositor compulsivo ou caudaloso:

— Eu meio que componho apenas o que vai entrar no álbum. Não existem muitas músicas que não tenham entrado nele. Se algo ficou de fora, foram pequenas ideias aqui e ali, não exatamente músicas. Aquilo ali foi tudo o que eu compus, até porque eu não consigo me envolver emocionalmente com a composição se a coisa não estiver acontecendo comigo de verdade.

Espaço para o luto

Como em outros álbuns dos Bleachers, muitas canções refletem, na sua tristeza, o luto pela irmã, Sarah, que morreu aos 13 anos, de câncer no cérebro, quando o músico era também um adolescente. Mas elas têm também a alegria do amor. Ex-namorado das atrizes Scarlett Johansson (quando foram colegas de colégio em Nova York) e Lena Dunham (da série “Girls”), Antonoff se casou ano passado com a bailarina e atriz Margaret Qualley, filha da estrela Andie McDowell, e, ela mesma, estrela de filmes de sucesso, como “Era uma vez em Hollywood” e “Pobres criaturas”.

É um amor abençoado por Lana Del Rey (que compôs e gravou com os Bleachers a canção “Margaret”, incluída em seu álbum do ano passado, “Did you know that there’s a tunnel under Ocean Blvd”) e sacramentada no emocionante videoclipe de “Tiny moves”, faixa de “Bleachers”. Gravado algumas semanas antes do casamento, o filmete mostra a atriz, num vestido branco, executando uma dança, num estacionamento, com o horizonte de Nova York ao fundo. No fim, descobre-se que a dança é para Antonoff, que olha a noiva com adoração, do capô do carro.

— Margaret é a coisa mais importante para mim. Ela é mágica — resume o produtor, revelando não saber explicar como luto e paixão se equilibram em suas canções. — Apenas sei as coisas que me sinto compelido a dizer, quase não penso no equilíbrio emocional do que vai sair dali. Tanto faz para mim se e é alegria ou tristeza, eu só quero que a canção se pareça com aquilo que está dentro da minha cabeça. Não sei quando foi a última vez que passei dois ou três minutos com uma mesma emoção. Eu gosto das músicas que têm espaços para representar coisas muito diferentes, o que pode confundir algumas pessoas.

Uma curiosa sensação que a audição de “Bleachers” provoca nos ouvintes mais velhos é o de se estar ouvindo uma rádio FM qualquer de 1984 — ano em que Jack Antonoff nasceu.

— Penso na música dos anos 1990 e em toda essa ótima música com a qual cresci ouvindo, do começo dos anos 2000, tudo o que tocava quando eu já existia. Mas às vezes me pergunto por que certos sons parecem ter sido implantados na minha cabeça. E acho que é porque, quando eu ainda estava dentro da minha mãe, e ela estava zanzando por aí, o rádio tocava Prince, tocava “Born in the USA” (de Bruce Springsteen) — confirma o músico. — Toda essa música parece estar fluindo através de mim, eram as vibrações que eu sentia quando estava no útero. Ali, eu provavelmente estava ouvindo muitos sons de bateria bombásticos, ou de teclados Juno 6. Então gosto de pegar esses sons que parecem fazer parte de mim e usá-los em qualquer lugar.

E por falar na música dos anos 1980, o verbete “Jack Antonoff” da Wikipedia diz que sua relação profissional com Taylor Swift começou por causa do amor comum por um certo som de caixa de bateria de uma música dos Fine Young Canibals (célebre banda inglesa daquela década).

Os dois vêm trabalhando juntos desde “1989”, álbum dela de 2014. Ao receber este ano o Grammy de melhor produtor, Antonoff agradeceu à cantora por ter confiado desde o começo, insistindo em usar, em “1989”, a versão da música “Out of the woods” que ele havia produzido.

— Mas não foi exatamente por causa de um som de bateria dos Fine Young Canibals que começamos a trabalhar juntos (risos)! — diz. — As coisas são escritas e depois viram mitologia. Na verdade, é uma história que fala de um conceito maior, de um amor compartilhado por certo tipo de música e, o mais importante, por certo tipo de composição.

Em entrevista ao GLOBO, 11 anos atrás, quando ainda era do Fun, Antonoff dizia querer muito vir ao Brasil para fazer shows, o que acabou não acontecendo:

— É muito maluco, eu nunca estive no Brasil! Todos os meus amigos que foram ao Brasil me disseram que os shows aí são mágicos, então eu realmente quero ir aí com os Bleachers. Não sei o que diabos há de errado comigo para ter demorando tanto!

Fã de Seu Jorge

Ele diz adorar música brasileira, especialmente por causa da batida do violão.

— O Seu Jorge é brasileiro? — pergunta ele, e logo recebe a confirmação. — Eu nunca o encontrei pessoalmente. Mas adoro Seu Jorge, lembro que descobri sua música por causa da trilha sonora de “A vida marinha com Steve Zissou” (longa de Wes Anderson, de 2004, no qual o cantor interpreta versões em português de clássicos de David Bowie). Por causa desse disco eu cheguei a “Cidade de Deus” (filme de 2002, de Fernando Meireles, em que Seu Jorge atua) e a toda aquela música dele, que me soa muito visceral e eu amo. Você consegue ouvir cada peça de bateria, cada violão, mesmo que elas estejam sendo tocadas juntas e muito alto. É meu tipo favorito de música, aquele em que você consegue ouvir cada instrumento.

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