Últimas Notícias

Palco de Madonna é atração à parte: de elevadores a telões, cenografia ajuda a contar história de 40 anos de carreira

Os acordes de “Nothing really matters” começam a ecoar e Madonna surge em uma túnica preta, sozinha, no centro de um disco giratório. A estrutura roda, sobe, desce, se transforma diversas vezes, e, em poucos minutos de show, o público entende que está diante de um palco vivo. São três passarelas com elevadores e telões que tornam o cenário interativo. Em dado momento, um cubo com projeções sai do chão e estruturas no teto fazem a Rainha do Pop voar sobre a plateia, proporcionando uma experiência única.

Madonna: 4 mil pessoas envolvidas, consultoria sobre o clima, 38 geradores e mais; veja como show está sendo montado

Quando é o show da Madonna no Rio? Veja data, horário e como assistir ao vivo

Ainda não dá para saber se as cenas acima, vistas nas apresentações da Celebration Tour que rodaram América do Norte e Europa, serão reproduzidas amanhã, às 21h45, na Praia de Copacabana, no Rio (após apresentação de DJs às 19h e do americano Diplo, às 20h). Mas, se depender de tudo o que foi montado até agora para receber o espetáculo, dá para repetir e ir além — por aqui, o palco terá o dobro de área, com 812m². Somados, todos os elementos cênicos pesam 80 toneladas e foram transportados para o Brasil em três aviões, junto a uma equipe de 200 pessoas e mais 45 baús só de figurino.

Até aqui, Madonna dividiu seu show, feito para comemorar 40 anos de carreira, em cinco atos com um setlist de 30 canções — cada uma com um número musical próprio. Quando ela e seus bailarinos performam “Erotica”, por exemplo, aparecem em ringue de boxe. E, na hora de cantar “Live to tell”, Madonna some em um elevador que desce ao “subsolo” do palco e reaparece em uma espécie de portal flutuante.

Restaurante particular: Madonna trouxe o próprio chef e montou cozinha no Copacabana Palace

A missão de projetar um dos palcos mais importantes da carreira de Madonna ficou com o Stufish, escritório de arquitetura com foco em shows e entretenimento baseado em Londres, na Inglaterra. Esta é a quinta turnê consecutiva em que Madonna trabalha com o estúdio liderado por Ric Lipson. A parceria começou em 2012, com a MDNA Tour.

Em entrevista à imprensa internacional, Lipson afirmou que o palco foi projetado para permitir que o público chegasse bem perto de quase todas as áreas das arenas e que, desta vez, o foco principal foi em encenação, iluminação e partes móveis.

O design do palco, com a estrutura circular e giratória que tem três andares que sobem e descem, evoca o bolo de casamento do qual Madonna surgiu em sua primeira apresentação no MTV Video Music Awards, em 1984. Já a sua disposição faz referência a regiões de Manhattan, onde ela iniciou a carreira — com Uptown, Downtown, Eastside e Westside.

O formato busca ainda fazer um paralelo com um relógio, dando destaque para o fator cronológico, importante nessa turnê de celebração. O portal em que Madonna é içada pelos ares, por exemplo, foi pensado como uma máquina do tempo, por onde a Rainha do Pop passeia pelo passado, presente e futuro.

História: Biografia de Madonna mostra determinação de artista desde a infância e influência de artistas como David Bowie e Michael

Cenografia na cabeça

Os fãs mais ansiosos, que, além de marcar presença no show, já viram e reviram a apresentação pela internet, estão atentos a esses detalhes cenográficos. É o caso da garçonete Raquel de Souza, de 29 anos, que saiu de Fortaleza para o Rio e assistiu ao teste de luz e som realizado no palco, montado em frente ao Copacabana Palace, na noite de quarta-feira.

— Em “Bedtime story”, ela se deita em um cubo elevado que tem projeção de imagem. E isso vai acontecer, porque vi o cubo no teste. A outra performance que quero ver é “Nothing really matters”, que vai ter uma estrutura giratória, em que Madonna gira com uma coroa, como se fosse Nossa Senhora — detalha Raquel, que desde segunda-feira, quando a cantora chegou ao Rio, tem frequentado a frente do hotel e ostenta no antebraço direito uma tatuagem inspirada em um álbum da cantora “American life” (2003).

Já o artista visual Marcus Lemos, de 27 anos, que também faz vigília no hotel, percebeu uma mudança em relação aos outros shows da turnê, realizados em estádios e arenas: a instalação de telões fixos — e não retráteis.

— Ela vai trazer todos os elementos da turnê. A maior mudança são os telões fixos — garante Marcus, com tanta autoridade que parece até membro da equipe. — Olhando daqui, me parece que funcionou bem.

Madonna no Rio: um a um, os 14 álbuns comentados da Rainha do Pop

Além de trabalhar com Madonna, a lista de clientes de Ric Lipson, que responde pelo palco da Celebration Tour, conta com estrelas como Lady Gaga (na turnê Born This Way Ball, 2012), Elton John (Diving Board Tour, 2013) e Beyoncé e JayZ (On the run II tour, 2018).

Pioneira entre seus colegas, Madonna sempre investiu no visual de seus shows. Em 2006, na Confessions Tour, apostou em telões gigantes. Em 2009, construiu um dos palcos mais caros da História na turnê Sticky & Sweet, que trazia nos lados do palco dois Ms gigantes cravejados de cristais Swarovski. Em 2015, na Rebel Heart Tour, a passarela personalizada unia cruz e coração.

Para quem critica seus shows por serem muito engessados, o criador do portal Madonna Online, Rafael Arena, tem uma resposta:

— É teatral e é para ser assim. Essa característica que faz as turnês da Madonna serem especiais.

Rafael, de 38 anos, que já assistiu a dois shows da Celebration Tour, conta que a artista sempre chamou sua atenção por ser “metódica”.

— Isso me fascina. Na década de 1990, já achava incrível o que ela fazia no palco. Eu achava que o cantor ficava atrás do microfone interpretando a sua música e ponto, mas Madonna unia teatro, cenografia, elementos como fogo, água, com dança, banda… — relata Rafael. — Ela sempre conta uma história com começo, meio e fim. É completamente diferente de um show tradicional.

Luiz Oscar Niemeyer: empresário sobre trazer show de Madonna ao Rio: ‘Não tem como evitar o frio na barriga’

Bola de espelhos e cubo

Outros elementos que compõem o cenário do show atual incluem uma bola de discoteca gigante, um cubo com projeções virtuais e um carrossel giratório de vidro com grandes crucifixos representando uma capela.

Para o design do tal cubo, que surge do chão, Madonna colaborou com o designer de jogos e artista Gabriel Massan, brasileiro nascido em Nilópolis, na Baixada Fluminense, e radicado em Berlim, Alemanha, desde 2020. Quando o cubo é elevado, em suas laterais surge a imagem da própria Madonna em tempo real mesclada com um vídeo produzido por Gabriel.

Como bem resumiu o fã de Madonna e professor de Geografia Caio Maurício, de 26 anos, “tudo tem significado”.

— A ficha ainda não caiu. Vejo o palco como um organismo vivo. Tudo está organicamente funcionando.

*Texto com colaboração de João Vitor Costa

To Top