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Acidentes de moto no Rio sobem mais de 19% em um ano, e cresce o número de mortes

O acidente entre uma moto e um carro na última quinta-feira em Madureira, Zona Norte do Rio, deixou no asfalto o piloto Vitor Hugo Teodoro, de 21 anos, e uma passageira que havia solicitado uma corrida por aplicativo em Anchieta para chegar a tempo em uma entrevista de emprego na Freguesia, Zona Oeste da cidade. Depois da queda, com ferimentos e uma queimadura no pé, ela se levantou e pediu outra moto por aplicativo para chegar a seu destino. Vitor foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e levado ao Hospital municipal Lourenço Jorge, onde exames constataram uma luxação na perna direita.

— Já sofri seis acidentes de moto desde que comecei a trabalhar — diz o motociclista, de 21 anos, que fez seu cadastro como piloto de aplicativo há sete meses, após a falência de sua empresa de e-commerce.

Estatísticas infladas

Acidentes como o que Vitor e a passageira sofreram inflam as estatísticas sobre ocorrências no trânsito da cidade do Rio. De 2022 para 2023, o número de ocorrências com motos teve um aumento de 19,68%. No ano passado, segundo o Corpo de Bombeiros, motociclistas da cidade do Rio se envolveram em 1.401 atropelamentos, 13.266 colisões e 5.553 quedas, um total de 20.220 acidentes.

Dados do Hospital estadual Alberto Torres, de São Gonçalo, que tem o maior Centro de Trauma do Rio e recebe vítimas graves de toda a Região Metropolitana, apontam que o número de vítimas de acidentes de moto é mais de cinco vezes maior do que o de acidentes de carro. Em 2023, foram 1.149 traumatizados por acidentes de moto e 205 de carro. Neste ano, até março, a conta chegou a 325 em motos e 56 em carros.

Dirigir com imprudência ou imperícia (sem qualificação técnica ou prática) leva ao quadro atual — que se agrava quando não são usados equipamentos de segurança e vestimenta adequada.

— Existe a Lei Federal 12.009 (2009), que exige que, para alguém desempenhar a função de motofretista, precisa ter mais de 21 anos, no mínimo dois anos de habilitação “A” e cumprir outros requisitos, como usar equipamentos de segurança. Mas hoje o que se vê é uma molecada que precisa levar o sustento para casa, pilotando moto de chinelo, sem capacete — lamenta Marcelo Matos, diretor executivo do Sindmoto (Sindicato dos Empregados Motociclistas do Rio de Janeiro).

— A moto se torna um modal mais barato do que o carro por conta do combustível e da manutenção. Ainda há a facilidade de deslocamento, principalmente em grandes centros — diz o especialista em trânsito da IbacBrasil Lúcio Fernando Linhares Machado. — Os pilotos utilizam corredores nas vias, mas isso depois pode se refletir em risco de sinistro — acrescenta.

Quatro vezes mais motos

Vinte anos atrás, a frota de carros na cidade do Rio era metade da atual, enquanto a de motos equivalia a 1/4 da que existe hoje. De 2022 para 2023, enquanto o número de carros registrados no município do Rio subiu 11.931, a quantidade de novas motos foi de 29.460.

Pilotos de motocicleta ouvidos pelo GLOBO apontam outro risco pelas ruas. Entre elas está um tipo de fraude em que motociclistas não habilitados “alugam” contas de pilotos habilitados de aplicativo de transportes de passageiros para rodar ilegalmente pela cidade por valores entre R$ 100 e R$ 200 por semana.

— Muitas vezes, os passageiros que aceitam as corridas não notam que é outra pessoa, por ela estar de capacete— diz um piloto, que não quis se identificar.

A “manobra” coloca em risco passageiros e motociclistas e configura crime de falsidade ideológica, de acordo com a polícia.

A Uber informa que não aceita pilotos desabilitados e que “para se cadastrar no aplicativo e dirigir na modalidade, o motociclista precisa ter a CNH com a observação de atividade remunerada (EAR)”. Já a 99 diz que, para se cadastrar, o piloto passa por um processo de análise de documentos, licenciamento do veículo e checagem de antecedentes: “Eles também precisam ter 19 anos ou mais e ter carteira de habilitação definitiva nas categorias A ou AB”.

O aumento nos índices de sinistros tem impacto no número de internações graves e no de mortes. Dados do Datasus, plataforma do Ministério da Saúde, apontam que houve, de 2022 para 2023, elevação de 18,5% no número de óbitos por conta de acidentes de moto no município do Rio. Entre as vítimas de acidentes graves e gravíssimos que sobrevivem, pilotos e passageiros podem ter sequelas definitivas ou incapacitantes.

— O trauma mais grave é o de lesão craniana, com danos ligados ao sistema nervoso central. Muitas vezes, na batida, o motociclista é lançado à frente e tem a região frontal (crânio e face) e até as regiões cervical e torácica afetadas. Mais comuns são as fraturas, ligadas à ortopedia. As mais graves podem tornar o membro (inferior ou superior) incapacitante ou com pouca funcionalidade — diz o médico Bruno Guimarães, diretor do Hospital municipal Lourenço Jorge, na Barra, o que mais fez atendimentos de acidentados de moto na rede municipal este ano.

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