Exterior

Erro em prova para entrar no Itamaraty obriga ministério a refazer correção

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um erro na aplicação do concurso de admissão de diplomatas levou o Ministério das Relações Exteriores a fazer uma nova correção da prova –com outra banca examinadora–, o que atrasará a conclusão do processo por tempo não determinado. 
  A decisão foi comunicada nesta terça-feira (26) pelo Iades (Instituto Americano de Desenvolvimento), empresa responsável pela organização da seleção. De acordo com o instituto, as folhas de respostas das provas da segunda fase do exame tinham o número de inscrição dos candidatos, algo proibido pelo edital de convocação.
Em tese, esse número permitiria ao examinador saber o nome da pessoa da prova que ele estava corrigindo, afetando a imparcialidade do concurso. 
Realizada anualmente desde 1946, a seleção atual foi convocada para escolher 20 novos diplomatas, com salário inicial de cerca de R$ 19 mil. 
Esta foi a primeira vez em 26 anos que o concurso não foi organizado pelo Cebraspe –o antigo Cespe, vinculado à UnB (Universidade de Brasília).
Para a aplicação do exame sob a gestão do ministro Ernesto Araújo, o Itamaraty decidiu contratar o Iades, sob argumento de “preço mais baixo na pesquisa de mercado e proposta técnica adequada às necessidades do Ministério de Relações Exteriores”.
Menos tradicional, o instituto foi fundado em 2009 e desde então realizou duas centenas de seleções para órgãos estaduais e estruturas do segundo escalão do governo federal.
A segunda etapa do exame foi realizada entre os dias 12 e 20 de outubro, e os pouco mais de 200 candidatos convocados deram respostas discursivas para questões sobre história do Brasil, geografia, política internacional, economia, direito e direito internacional.
Também houve perguntas no mesmo formato nas provas de português, inglês, espanhol e francês. 
Com o erro identificado, o Itamaraty deverá publicar uma nova lista preliminar do resultado do concurso –a primeira foi disponibilizada em 5 de novembro.
Essa lista traz todos os candidatos que fizeram a segunda fase, com as respectivas notas atribuídas. 
Embora não seja uma lista de aprovados, as pessoas que participam da concorrência têm uma ideia, a partir da média de suas notas, da classificação atingida. 
A relação definitiva com os aprovados só é divulgada após a análise pela banca examinadora dos recursos apresentados pelos postulantes que tentam melhorar sua avaliação. 
Agora, isso só será feito depois da nova correção determinada pelo Itamaraty.  
O descumprimento de um dos itens do edital foi alvo de uma denúncia apresentada ao Ministério Público do Paraná. 
A procuradoria enviou ofícios ao Iades e à diretoria do Instituto Rio Branco (escola de formação dos diplomatas) pedindo esclarecimentos. 
O processo tramita em sigilo e ainda não foi concluído, mas o Ministério das Relações Exteriores decidiu se antecipar e determinar o reexame dos testes.
De acordo com interlocutores que acompanham o tema, o Itamaraty avalia que uma segunda correção das provas será possível porque o número de identificação que está nas folhas de respostas será apagado. 
Dessa forma, os novos examinadores não teriam como saber a quem corresponde os testes que eles analisarão.
Nesse caso, o código que permite a conexão da folha de resposta ao candidato fica com a empresa organizadora, que faz a associação sem o conhecimento do examinador.
“Trata-se de nova correção das mesmas provas, por banca avaliadora diferente, de forma a evitar qualquer dúvida sobre a não identificação dos candidatos. A data de publicação dos resultados será oportunamente divulgada pelo Instituto Rio Branco”, disse o ministério em nota. 
Candidatos que realizaram a prova ouvidos pela reportagem relataram preocupação com a situação.
Mesmo que as regras do exame levantem pontos para aumentar a objetividade das correções, eles lembram que respostas discursivas sempre contêm um grau de subjetividade, o que pode gerar diferenças entre o resultado preliminar divulgado em novembro e o que será refeito.
Além do mais, eles temem que o erro aumente o risco de judicialização do resultado final.
Esta não é a primeira polêmica que atinge o exame do Itamaraty de 2019. Publicado em 8 de julho, o edital do concurso não trouxe temas exigidos nas duas últimas edições do exame. 
O ministério excluiu conteúdos relacionados às políticas econômicas dos governos do PT da lista de conhecimentos exigidos na prova. 
Foram retirados os conteúdos “diferenças na política econômica entre o primeiro e o segundo mandato do governo Lula”, “efeitos positivos das políticas distributivas de renda” e “nova matriz econômica” –medidas adotadas na gestão Dilma Rousseff.
Também foi cortado o item “reformas institucionais do governo Fernando Henrique Cardoso”, embora tenham sido preservados ainda os pontos “economia brasileira nos anos 90” e “Plano Real.” 
As alterações não se limitaram a economia. O item “Políticas de identidade: gênero, raça e religião como vetores da política mundial”, que constou nas seleções de 2018 e 2017, foi trocado por “Direitos humanos, liberdade religiosa e políticas de identidade.”

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