Economia

Investimentos em Goiás deveriam ser mais valorizados, diz executivo da Enel

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O diretor-executivo da operadora de energia Enel no Brasil, Nicola Cotugno, diz que a empresa foi surpreendida pela atitude do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), que tem defendido a cassação da concessão da distribuidora do estado, operada pela multinacional desde fevereiro de 2017.
Para ele, a postura assumida pelo governo goiano, que acusa a companhia de prestar um serviço de má qualidade, é estranha e não condiz com a realidade.
“Nos surpreende falar [mal] da qualidade [do serviço prestado pela Enel] e de uma situação desastrosa, quando desastrosa foi a situação da empresa que a gente comprou de uma gestão estadual de 20 anos. O desastre foi causado por outros e a gente está remediando”.
Cotugno afirmou à reportagem que a Enel confia no marco regulatório brasileiro e que não tem medo de perder a concessão, conquistada em um leilão federal em 2016. A companhia italiana é a maior operadora privada de energia do mundo e controla também distribuidoras em São Paulo (adquiriu a Eletropaulo em 2018), Rio de Janeiro e Ceará.
Os italianos argumentam que assumiram uma rede elétrica precária da então Celg-D, companhia estadual de energia que foi federalizada e privatizada em seguida. Segundo a Enel, os investimentos feitos pela companhia hoje são 3,5 vezes superiores aos que eram aportados na distribuidora pelo governo goiano.
“A Celg-D foi privatizada porque estava em um estado crítico. Investia-se menos do que o necessário [para evitar a] depreciação, era uma rede que piorava a cada ano. [O governo estadual] aportava cerca de R$ 220 milhões ao ano e passamos a investir R$ 800 milhões”, diz.
O executivo afirma que a Enel é responsável por uma melhora na infraestrutura elétrica de Goiás e que o fato deveria ser valorizado pela gestão estadual.
“No nível infraestrutural, a única área que está se desenvolvendo de forma importante em Goiás é a elétrica devido aos investimentos da Enel. Por causa da crise econômica, não é que o sistema rodoviário ou o de águas está melhorando. A Enel está contribuindo para melhorar [a rede elétrica] de maneira objetiva e isso tinha de ser celebrado”.
A seu favor, a empresa italiana usa indicadores que mostram uma melhoria do número de horas que cada cliente goiano passa sem eletricidade por ano em 46% e do número médio de interrupções em 52% entre dezembro de 2015 e setembro de 2019. Ainda assim, permanece como a pior distribuidora do país.
Hoje, os 3,2 milhões de consumidores goianos ficam, em média, 23,5 horas por ano sem energia elétrica e são 12 faltas de energia anuais. Cotugno argumenta, contudo, que a empresa entrega um serviço melhor que o previsto no contrato.
“A meta para de 2019 era de 30 horas [sem energia por ano] e estamos abaixo das 24. Para interrupções, previa 20”, diz.
Segundo ele, a empresa não tem tido contato com Caiado há pelo menos 40 dias. A relação com a gestão estadual piorou em novembro devido a falhas no fornecimento de eletricidade no estado após chuvas.
Cotugno afirma que, embora a quantidade de chuvas tenha sido similar à do ano passado, houve 340% mais raios.  “É um tema de resiliência às mudanças climáticas. Sempre tem chuva, mas a conta objetiva é o impacto dos raios sobre a rede, é fatal. [Houve] 50% mais falhas nos transformadores, [com] árvores caídas e mais ocorrências graves para reparar”.
O executivo diz que a companhia aumentou de 700 para 1.100 o número de equipes  de eletricistas no estado para fazer frente ao problema e que levou para Goiás mão de obra de suas operações em São Paulo, Rio e Ceará.
Paralelamente, diz investir na formação de eletricistas locais e que pretende contratar ao menos 1.000 pessoas até o próximo semestre.
A Enel afirma ainda que tem cumprido na íntegra um acordo assinado com Caiado em agosto, de maneira voluntária, para acelerar investimentos no estado até 2022. O documento prevê a ampliação da capacidade em 26%.
O executivo italiano diz confiar na resolução do impasse e diz que a empresa não prevê cortar investimentos no país. 
Apesar disso, ele afirma que o clima de insegurança jurídica pode atrapalhar a decisão de outros investidores. 
“Quanto se paga por um ativo se você tem dúvidas sobre se vão te tirar a concessão? Menos. Quanto o Brasil vai ganhar nessa história? Menos. O governo [federal] não deve estar feliz porque quer vender ativos.”

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