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Rostos gigantes invadem pilastras do Minhocão

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quem passar pela rua Amaral Gurgel, na Vila Buarque (região central de SP), vai se deparar com enormes rostos cobrindo as pilastras do elevado Presidente João Goulart, o Minhocão. As fotos fazem parte do Projeto Giganto, que vai expor retratos de 29 moradores da capital paulista. 
De acordo com Raquel Brust, fotógrafa e organizadora da exposição, o objetivo é mostrar a diversidade presente em São Paulo e estimular a inclusão de grupos marginalizados. “Fotografamos pessoas com diferentes origens, tipos de corpos, crenças, gêneros e realidades. A ideia é dar luz para aqueles que estão em vulnerabilidade social”, afirma Raquel.
Os homenageados foram escolhidos pela própria fotógrafa, que entrou em contato com associações de pessoas com deficiência, instituições de apoio, grupos indígenas, população LGBT e, também, procurou por pessoas através do Instagram. 
Entre os retratos exibidos, já estão expostas fotos da drag queen Rita Von Honty, do modelo Akin Cavalcante, que possui vitiligo, do líder indígena da aldeia de Guarani Jaraguá, Davi Karai Popygua, e da cadeirante Bruna, sobrevivente de violência doméstica e hoje atleta de rugby. 
“Tenho a impressão de que o ódio está em evidência hoje. Com essa exposição, queremos mais acolhimento, queremos despertar consciência nas pessoas”, explica a fotógrafa. 
Os 29 retratos estarão expostos nos dois lados de 15 pilastras do Minhocão. Segundo a organizadora, a previsão é de que a partir do dia 17 todos já tenham sido colocados. O processo de colagem das fotos é feito em tiras e demora cerca de três horas cada. “É um trabalho de formiguinha, mas o resultado vale muito a pena”, diz. 
Nesta terça (3), quando seu retrato já estava pronto, o modelo Akin Cavalcante, 36 anos, decidiu ir até o local para ver o resultado. “Eu me emocionei, fiquei muito feliz. Se uma exposição assim tivesse sido feita quando começaram a aparecer as manchas do vitiligo, aos 18 anos, teria facilitado demais o meu processo de aceitação.”
Pela falta de representatividade, diz o modelo, ele demorou muito a aceitar a própria aparência. “Foi um processo traumático, a maioria das pessoas que estão inseridas em grupos de diversidade são consideradas feias”, diz. 
Seis anos atrás, em 2013, o projeto Giganto já havia realizado uma exposição de fotos nas pilastras do elevado, com retratos de moradores da região. Raquel afirma que a atual exposição não possui data prevista de retirada. 
Segundo ela, o material utilizado para impressão das fotos pode manter as imagens intactas por anos, uma vez que o local não recebe sol nem chuva. No entanto, o tempo em que a exposição irá de fato durar depende da recepção dos moradores do bairro. “Arte de rua é sempre muito efêmera, se a rua não gostar, não tem como permanecer”, diz.

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