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Apontado como dono da voz que pede propina em áudio de Textor, ex-árbitro depõe na CPI; saiba quem é

A CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, que corre no Senado desde abril, voltará a receber um depoimento nesta segunda. E de um personagem que tem sido muito comentado nas últimas semanas: o ex-árbitro Glauber do Amaral Cunha. A ele é atribuída a voz no áudio entregue por John Textor, dono da SAF do Botafogo, em que reclama do não pagamento de propina após ter inventado um pênalti e faltas para influenciar no placar de um jogo.

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De acordo com o requerimento, o objetivo é colher “informações sobre suspeitas de manipulação de resultados esportivos no Brasil”. O depoimento será colhido de forma secreta “para proporcionar um ambiente no qual o depoente se sinta confortável para compartilhar detalhes cruciais sem receio de represálias ou comprometimento de sua segurança pessoal ou profissional”.

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Não há confirmação de que a voz seja mesmo de Glauber. O nome dele circula de forma não oficial. Uma das expectativas da CPI é justamente se ele irá assumir a autoria ou se trará alguma informação sobre o áudio em questão.

Em março, durante sua cruzada contra a arbitragem, Textor afirmou ter recebido a gravação de um membro da CBF. O americano não disse, porém, a qual partida o árbitro se referia, nem o campeonato ou o ano. A reportagem do GLOBO apurou que se trata de um jogo da terceira divisão do Campeonato Carioca.

Leia a transcrição da gravação:

“Eu apitei, pô. Apitei. Entendeu? Deixei de ganhar muito dinheiro também. Mas o que eu podia fazer, eu fiz. Não é fazer loucura, igual eu não fiz. O cavalo passou selado e eu montei nele. Aos 16 minutos eu dei um pênalti “pros” caras. Entendeu? Aquele pênalti 50%? Eu dei, pô. Os caras, porra, bateram o pênalti na trave. E depois eu fiquei dando tudo para os caras. O pênalti que eu dei foi de agarra agarra dentro da área. Depois ninguém se agarrou mais, não teve mais como. E a bola não quis entrar. Dei oito minutos de acréscimo no segundo tempo”, disse o envolvido.

Quem é Glauber do Amaral Cunha?

Oriundo de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, Glauber é técnico de edificações. Registrado na Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj), Glauber nunca apitou em competições da CBF. Estreou nas competições estaduais em 2018. Seu primeiro jogo foi uma partida do Campeonato Carioca feminino vencida pelo Vasco por 9 a 0, contra a Accel.

Entre os grandes do Rio, há registros de Glauber apitando apenas partidas de Vasco e Flamengo, mas nenhuma das equipes adultas masculinas. Em relação ao rubro-negro, o ex-árbitro apitou a vitória do time sub-20 por 6 a 1 contra o Boavista, em 2020, pelo Carioca da categoria, na Gávea.

Além dos trabalhos na arbitragem e como técnico de edificações, Glauber também comandou um projeto de futebol para crianças em uma igreja de São Gonçalo. Nas suas redes sociais, ele costumava compartilhar imagens de trabalho e também das ações religiosas, sejam elas esportivas ou em cultos.

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Glauber deixou de apitar em 2023, quando não passou nos testes físicos e técnicos. Durante o tempo em que apitou, era visto como mediano. Nunca evoluiu na carreira. Na maioria das partidas, inclusive, atuou como quarto árbitro.

A gravação começou a circular no mundo do futebol carioca no fim de 2022 até chegar à Ferj. De acordo com a entidade, justamente por não haver confirmação da autoria da voz é que não foi possível registrar denúncia na polícia.

A entidade informa que, por outro lado, tomou medidas que visaram o fortalecimento da fiscalização e do combate à manipulação em seus campeonatos. Entre elas, a de impor aos árbitros o registro nas súmulas da marcação de penalidade máxima e a respectiva descrição do motivo pelo qual ela foi marcada. Além disso, a contratação de cinegrafistas para filmagem de todos os jogos de seus torneios.

Confirma a nota encaminhada pela Ferj:

“A respeito das informações que apontam ser a voz do árbitro Glauber do Amaral Cunha em áudio entregue pelo CEO da Botafogo SAF, John Textor, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Manipulação de Resultados, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro tem a informar:

1) O áudio em questão passou a ser de conhecimento da Federação de Futebol do Rio de Janeiro através de circulação em redes sociais, não tendo como identificar e comprovar sua origem e ou a veracidade.

2) Guardiã do princípio do jogo limpo e empenhada no combate à manipulação de resultados, materializadas com campanhas e ações concretas, profiláticas e repressivas, a Federação de Futebol do Rio de Janeiro, a partir do conhecimento de tal áudio, ampliou as medidas protetivas mediante dispositivos regulamentares internos , comunicações aos órgãos competentes de apuração e realização de contratos com empresas internacionais e independentes especializadas na identificação de sinais de anormalidades em eventos esportivos, e ainda:

2.1) Imposição ao árbitro para registrar na súmula a marcação de penalidade máxima e respectiva descrição do motivo pelo qual marcou o pênalti, ressaltando que tal procedimento, ao que se tem conhecimento, não é praticado em nenhuma das competições nacionais;

2.2) Extensão do contrato com a Sportradar, empresa líder global em tecnologia esportiva para monitoramento e integridade das competições, com abrangência das partidas de todas as divisões e séries dos campeonatos do Rio de Janeiro (A, A2, B1, B2 e C) sob organização da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, tanto de profissionais quanto da categoria sub 20, contrato esse no mais alto nível de rigor e elementos de busca disponibilizados pela empresa citada, fato não adotado por nenhuma outra federação ou pela própria CBF;

2.3) Contratação de cinegrafistas para filmar os jogos, como forma de um banco de imagens para análise sob os mais variados motivos e objetivos;

2.4) Inclusão nos Regulamentos Específicos das Competições dispositivos mais abrangentes e rigorosos de prevenção e combate à manipulação de resultados.

3) A Federação de Futebol do Rio de Janeiro entende que, por se tratar de áudio de origem duvidosa, sem provas da autoria da declaração e precisa identificação da partida a que se referia, seria imprudente, precipitada e incabível afirmações acusatórias ou condenação, mas tão somente ações internas importantes e impessoais, impeditivas de repetição de semelhante desconformidade, sem expor precipitadamente qualquer pessoa ou instituição. No entanto, dividiu a mensagem com pessoas e instituições, inclusive em Assembleia Geral da CBF, como forma sinalizadora e de alerta, em ocasião que o tema estava sendo abordado.

4) Glauber do Amaral Cunha nunca apitou um jogo da Série A do Campeonato Carioca e, por justificada insuficiência física, técnica e de conhecimentos, foi afastado do quadro de árbitros do Departamento de Arbitragem do Futebol do Rio de Janeiro, não tendo atuado nas temporadas de 2023 e 2024.”