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Tecnologia ajuda avós a matar saudades dos netos na quarentena

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ilda Martins da Silva, 88, já passou por muita coisa na vida. Mulher do desaparecido político Virgílio Gomes da Silva, foi presa, torturada e teve os filhos sequestrados, em 1969, pelo regime militar. Dura na queda, Ilda anda sofrendo, mas agora é de saudade do neto de cinco anos que leva o nome do avô.
“Moramos a um quarteirão da Ilda. Mas, por conta da quarentena, ela não pode ver o Netinho [Virgílio Gomes da Silva Neto] há quase um mês. Na semana passada, não aguentou de saudade e pediu para a filha que mora com ela fazer uma chamada”, conta a nora Edileuza Pimenta. Como Ilda não ouve bem, Virgilinho abusou dos gestos para entreter a avó. “Mandou muitos beijinhos e isso a deixou bastante emocionada.”
No grupo de risco não só pela idade, mas porque está em tratamento de câncer, a apresentadora Ana Maria Braga, 71, teve que interromper os finais de semana ao lado dos netos (Joana, 9, Maria, 5, e Bento, 8). “Sinto saudades, mas é preciso. Os meios tecnológicos não substituem o abraço, o carinho, mas ajudam a matar a saudade. Recebo vídeos que a Mariana e o Pedro, meus filhos, me mandam das crianças brincando, cantando, estudando. Enfim, da rotina deles dentro de casa. Também converso com eles pelo Zoom”, conta a apresentadora.
Na casa da pediatra Tatyana Ferrari Tavares de Melo a rotina também teve que ser alterada. Bernardo, 4, estava acostumado a passar as tardes com os avós. Naturais de Santos, litoral sul de São Paulo, Agnes Aglair Ferrari Tavares de Melo, 68, e José Tavares de Melo, 74, vieram morar na capital para ajudar a cuidar do neto.
Diariamente, Agnes e José buscam Bernardo na escola e passam o dia com ele até que os pais voltem do trabalho. Essa rotina se repete desde que ele tinha quatro meses.
Agora tudo mudou. Desde 13 de março, Bernardo está sob os cuidados do pai, o publicitário Vinicius Francisco Valeiro, e afastado da escola e dos avós. Tatyana trabalha em AMA e UBS e quis evitar que o menino pudesse contaminar os outros.
“Para matar a saudade, fazemos chamadas por vídeo. Bernardo pega o celular para mostrar tudo o que ele fez no dia. Mas, em todas as vezes, os avós estão com os olhos cheios de água e a voz embargada”, relata Tatyana.
A cantora Fafá de Belém, ligadíssima às netas Laura, 8, e Júlia, 4, fala diariamente com as meninas por telefone e videochamadas enquanto elas estão no sítio dos avós paternos. “Falo com elas uma, às vezes duas vezes por dia. Elas me contam o que fizeram, cantam. E a gente vai se abraçando virtualmente.”
Dia desses a cantora foi às lágrimas. Laura ligou para contar que tinha ouvido uma música da avó na novela “Éramos Seis”. “Eu me acabei de chorar. Queira ou não estamos passando por um afastamento. A condição de não poder sair engessa qualquer pessoa que tenha na alma o sentido da liberdade. Mas entendo que a liberdade hoje é se cuidar, cuidar do outro e ficar em casa para a gente, daqui a pouco, poder sair em festa pela rua.”

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