Agência Brasil

Duas pessoas foram vítimas de racismo por dia no estado do Rio em 2019

No estado do Rio de Janeiro, em 2019, foram registradas 1.706 vítimas de crimes praticados contra a honra como, injúria por preconceito, injúria real e preconceito de raça e de cor. Destas, 844 sofreram discriminação por motivação racial, sendo que 766 destas vítimas eram negras, o que significa que duas pessoas sofreram racismo por dia. É o que aponta o Dossiê Crimes Raciais, lançado hoje (19) pelo Instituto de Segurança Pública (ISP).

Mais da metade das vítimas de racismo no ano passado eram mulheres (58,2%). Os homens representaram 39,7% do total. Ao analisar a idade, quase um terço tinha entre 40 e 59 anos, o que corresponde a 262 casos, 24,5% (207) tinham entre 30 e 39 anos e 23,2% (196), entre 18 e 29 anos.

Segundo o estudo, 46,3% dos autores eram conhecidos das vítimas e 42,9% eram pessoas com as quais as vítimas não tinham qualquer relação. Quase metade dos autores desses delitos (45,8%) eram mulheres e 36,7% eram homens. Cerca de metade dos autores de discriminação racial (45,7%) eram pessoas brancas e 26,5%, negros. Para 27,6% não havia informação.

De acordo com o ISP, estas são as primeiras estatísticas oficiais sobre o tema usando como fonte de dados quase 3 mil registros de ocorrência feitos em 2018 e 2019 nas delegacias da Secretaria de Estado de Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Os ambientes não residenciais foram locais com a maior incidência de ofensas (43,3%), seguido pela residência (27,1%) e pelo ambiente virtual (5,5%), ou seja, a internet.

Perfil das ofensas

Durante a análise dos dados, foram constatadas as ofensas verbais proferidas com mais frequência contra as vítimas de racismo no estado. Palavras como “macaca”, “macaco”, “negra”, “preto”, “preta” e “cabelo duro” foram as mais usadas pelos agressores. “O que se observa nas palavras em destaque é que os aspectos que constroem o fenótipo negro (cor da pele, formato do nariz, textura do cabelo), as religiões de matriz africana e a própria herança histórica da escravização foram os elementos utilizados para a depreciação das vítimas”, diz o ISP.

A capital fluminense concentrou o maior número de vítimas em 2019 (422), seguida pelo interior do estado (255), Baixada Fluminense (100) e Grande Niterói (67). Na capital, os bairros do Recreio, Barra da Tijuca e Taquara, com 36, 30 e 23 vítimas, respectivamente, foram os que tiveram a maior concentração de casos. Fora da capital, Teresópolis, Petrópolis e a região central de Niterói com, respectivamente, 22, 17 e 16 vítimas, registraram o maior número de vítimas no ano passado.

Segundo o ISP, este é o primeiro estudo produzido por um governo estadual no Brasil com o intuito de analisar e evidenciar os crimes de injúria e preconceito que tenham motivação racial. “O ISP se orgulha muito de lançar um estudo tão importante para ajudar a construir a sociedade que queremos. A elaboração desse Dossiê é importante não só para nortear os Poderes na criação de novas políticas para reduzir o número de casos de racismo, como também para aprimorar os instrumentos estatais que já estão funcionando”, afirmou, em nota, a diretora-presidente do ISP, Marcela Ortiz.

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