Brasil

Lula diz que será discutida candidatura de frente ampla em 2022

A principal pergunta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde que o Supremo Tribunal Federal anulou suas condenações, a de se será ou não candidato em 2022, ficou sem resposta nesta quarta-feira, mas o ex-presidente deixou claro que acredita em uma frente para as próximas eleições e vai trabalhar por ela.

“Minha cabeça não tem tempo de pensar em candidatura”, disse, respondendo a uma das perguntas durante os quase três horas de discurso e entrevista nesta quarta-feira, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.

Lula disse que “seria pequeno” se estivesse pensando no momento em 2022, e que o PT como partido vai pensar na próxima eleição quando chegar o momento das convenções se terá uma candidatura ou se tentará uma frente ampla.

“Precisamos esperar chegar o momento de a gente discutir e escolher candidato que vai se decidir, se vai ser possível ter candidatura única ou se vai ser possível ter várias candidaturas ou uma única candidatura de esquerda”, disse Lula durante entrevista coletiva na sede do sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. “Vamos discutir se vamos ter um candidato de uma frente ampla”, acrescentou.

Em mais de um momento, Lula indicou que quer sim trabalhar por uma frente ampla, mas que esse tema só pode ser discutido no ano que vem.

“Estou convencido de que uma aliança será possível. Por isso, é preciso ter paciência”, afirmou.

Durante toda a sua fala, Lula usou um tom mais conciliador e mais de centro do que vinha adotando desde sua prisão, em 2018. O ex-presidente reforçou, mais de uma vez, que deixou a Lava Jato para trás e que não guarda mágoas.

“Se tem um brasileiro que tem razão de ter muitas e profundas mágoas sou eu, mas não tenho. Sinceramente eu não tenho porque o sofrimento que o povo brasileiro está passando, o sofrimento que as pessoas pobres estão passando neste país é infinitamente maior do que qualquer crime que cometeram contra mim”, afirmou.

Em meio a sua fala, Lula se colocou claramente como antagonista do presidente Jair Bolsonaro, mas deixou as portas abertas para o diálogo com outras forças políticas além da esquerda. Disse, mais de uma vez, que está aberto para conversar com todas as forças políticas.

Ao ser perguntado se uma frente poderia incluir outros partidos além de PCdoB, PSOL e outros de oposição, Lula disse que isso não seria uma frente ampla, mas uma frente de esquerda, e que seria preciso agregar outros partidos.

“É possível construir programas que envolvam também setores conservadores. Mas se colocar na frente a questão eleitoral, trunca qualquer conversa. Uma frente com PT, PSOL, PCdoB é de esquerda não tem nada de frente ampla. Frente ampla é se a gente conseguir conversar com outros setores. É possível”, disse.

O ex-presidente acrescentou que espera dedicar o restante da vida a andar pelo país e a conversar com todos os setores da sociedade para discutir soluções para a crise que o país atravessa.

“O Brasil tinha um projeto de nação, de soberania, de cidadania, é pela construção desse sonho que eu me sinto muito jovem para brigar muito”, afirmou Lula em pronunciamento antes da entrevista coletiva.

“Desistir jamais, isso não existe no meu dicionário”, afirmou.

Lula convocou a entrevista coletiva após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anular na segunda-feira todas as condenações impostas a ele pela 13ª Vara Federal de Curitiba no âmbito da operação Lava Jato, medida que devolve ao petista seus direitos políticos e poderá, se mantida, embaralhar a sucessão presidencial de 2022.

O ex-presidente disse que sempre teve certeza que chegaria o dia de deixar claras as “inverdades” imputadas a ele.

Lula lembrou que há quase três anos se entregou à Polícia Federal para evitar figurar como fugitivo e para poder provar, da prisão, que era vítima da “maior mentira jurídica” do país.

“Tomei a decisão de me entregar porque não seria correto um homem da minha idade, com a história construída com vocês, aparecer na capa dos jornais como fugitivo”, disse Lula.

“Tinha tanta confiança e tanta consciência do que estava acontecendo no Brasil, que tinha certeza que esse dia chegaria, e ele chegou”, afirmou.

(Reportagem de Leonardo Benassatto, em São Bernardo do Campo, Lisandra Paraguassu e Maria Carolina Marcello, em Brasília)

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