Economia

BC reduz a 3,6% projeção de alta do PIB em 2021 e vê IPCA de 7,8% no 2º tri

O Banco Central reduziu sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano a 3,6%, ante alta de 3,8% projetada em dezembro, citando o impacto esperado do recrudescimento da pandemia sobre a atividade, mostrou o mais recente Relatório Trimestral de Inflação (RTI) da autarquia, divulgado nesta quinta-feira.

No documento, o BC disse que o ajuste na estimativa refletiu, de um lado, o carregamento estatístico para o PIB anual maior do que o esperado, após surpresa positiva com o dado do quarto trimestre, e a manutenção da atividade econômica em nível elevado no início deste ano; e, do outro, o recrudescimento recente da pandemia.

“Em termos de trajetória, a projeção para o PIB é de recuo moderado ao longo do primeiro semestre, seguido de recuperação relevante nos últimos dois trimestres do ano, decorrente da redução esperada na taxa de letalidade da Covid-19 e no número de internações, com o avanço da vacinação”, diz o relatório.

A estimativa do BC considera a manutenção do regime fiscal no país, uma nova rodada de auxílio emergencial de cerca de 44 bilhões de reais –conforme já previsto por medida provisória do governo– e a perspectiva de que o cronograma de vacinação contra a Covid-19 siga sem desvios importantes.

Ao comentar a nova estimativa, o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, disse que, por ora, os indicadores do país seguem mostrando recuperação em formato de “V”, contrariando expectativa do BC de que a retomada suavizaria no fim do ano passado.

Para o diretor, a principal motivação para que a economia tenha surpreendido positivamente no quarto trimestre de 2020, mesmo com a redução dos auxílios emergenciais, está relacionada ao mercado de trabalho.

“O mercado de trabalho formal se recuperou mais firme do que se esperava. Isso melhorou a confiança, e a poupança que tinha sido criada, a circunstancial, pode se transformar em consumo, e fez com que a economia fosse mais forte do que a gente tinha inicialmente projetado”, afirmou.

Apesar de a projeção para a alta do PIB não ter sofrido mudança significativa, o BC alterou o prognóstico para sua composição e previu desempenho melhor da indústria, com acréscimo de 6,4% (5,1% antes) e pior dos serviços, com crescimento de 2,8% (3,8% antes).

No caso de serviços, a revisão refletiu a intensificação da pandemia, que deve prejudicar a normalização de segmentos como transportes, armazenagem, alojamento e alimentação fora de casa, disse o BC.

INFLAÇÃO

Em relação à inflação, o BC repetiu as projeções divulgadas na semana passada para seu cenário básico –que apontam IPCA em torno de 5% para este ano e de 3,5% para 2022–, mas o relatório também detalhou os prognósticos de curto prazo, mostrando que a autoridade monetária espera que o IPCA chegue a 7,8% em 12 meses ao fim do segundo trimestre deste ano, antes de começar a recuar.

A estimativa do Bacen é que, em março, o IPCA fique em 0,82%, passando a 0,61% em abril e a 0,31% no mês seguinte.

“A inflação ainda elevada projetada para esses três meses se deve, principalmente, à continuidade do repasse da alta dos condicionantes para os preços dos combustíveis”, disse o BC.

Sobre o pico no segundo trimestre, a justificativa é que meses de inflação mais baixa em meados do ano passado serão substituídos na estatística por meses de IPCA maior.

O documento do BC também trouxe cenários alternativos para a inflação em que considera a possibilidade de condições mais adversas.

Um dos cenários incorpora uma “significativa deterioração” da percepção sobre a situação fiscal do país, outro considera um agravamento adicional da pandemia da Covid-19 e o terceiro cenário leva em conta uma combinação parcial dos dois primeiros.

O cenário de deterioração fiscal, que considerou alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas, foi o que gerou o maior impacto inflacionário. A projeção é que, nessas condições, o país terminaria este ano com inflação de 5,7%, escalando para 5,9% em 2022. Ambos os números estariam bem acima dos tetos dos intervalos de tolerância para o período –5,25% e 5%, respectivamente.

“Questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas têm o potencial de aumentar a incerteza econômica, os prêmios de risco e a taxa de juros estrutural da economia e depreciar a taxa de câmbio”, disse o documento.

A meta de inflação é de 3,75% para este ano e 3,50% para 2022, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, nos dois anos.

NORMALIZAÇÃO PARCIAL

No que diz respeito à política monetária, o documento repetiu diagnóstico feito na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na terça-feira.

Na semana passada, o BC elevou a taxa básica de juros pela primeira vez desde 2015, em 0,75 ponto percentual, e indicou que deve entregar nova alta na mesma magnitude em maio, ressaltando preocupações com a piora das projeções para a inflação.

O presidente do BC, Roberto Campos, afirmou que, ao promover um ajuste mais célere, o Copom parte do princípio de que “fazer mais, e fazer mais rápido, faz com que a intensidade total (do ajuste) deva ser menor”.

Ele também esclareceu que a expressão “normalização parcial” usada pelo BC para se referir ao início do aperto monetário é uma referência a um movimento em direção à taxa de juros neutra –nível da Selic que contém a inflação sem inibir a atividade econômica.

“Nós entendemos que precisamos fazer essa normalização parcial em parte porque o juro de 2% estava dentro de um entendimento de um cenário que não ocorreu, por isso normalização parcial”, afirmou.

(Com reportagem adicional de Patrícia Vilas Boas)

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