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‘The Whale’ com Brendan Fraser desponta no Festival de Veneza como favorito

VENEZA, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Cinco anos após causar reações extremas no Festival de Veneza com “Mãe!”, o americano Darren Aronofsky parece, enfim, ter realizado um filme mais próximo da unanimidade positiva.

Seu novo drama, “The Whale”, foi recebido de maneira bastante calorosa no Lido, surgindo como o primeiro forte candidato desta edição a levar o Leão de Ouro, prêmio que Aronofsky já recebeu em 2008, por “O Lutador”.

A história se passa inteiramente na casa de um professor obeso, Charlie, vivido por um Brendan Fraser coberto de próteses que lhe dão um aspecto bem verossímil de um homem muito acima do peso ideal.

O personagem ultrapassou a marca dos 250 quilos depois de um trauma afetivo e, com os anos, devido a uma completa indisciplina na hora de se alimentar, desenvolveu sérios problemas de saúde. Quando o filme começa, ele sabe que sua morte é questão de dias.

No pouco tempo que lhe resta, ele tenta se aproximar da filha adolescente, papel de Sadie Sink, da série “Stranger Things”, que ele abandonou quando tinha oito anos em nome de tentar ser feliz em um relacionamento homossexual. O longa acompanha essa última semana de Charlie.

Fraser foi um galã na década de 1990 e mostrou que era também um grande ator em “Deuses e Monstros”, de 1998. Depois, fez basicamente filmes de grande público sem maior interesse artístico, como “A Múmia”, de 1999, até que sua carreira foi minguando. “The Whale” marca sua volta ao primeiro time de Hollywood.

Aronofsky diz que o projeto demorou dez anos até sair do papel –a ideia de chamar Fraser veio por acaso, quando ele viu o ator em um trailer de “12 Horas Até o Amanhecer”, coprodução brasileira de 2006 dirigida por Eric Eason, quando o ex-galã já estava em baixa. Aproveitou que a tecnologia de hoje permite uma impressionante recriação de um corpo obeso com maquiagem e próteses e deu a Fraser a chance de dar a volta por cima na carreira.

“Tive que aprender a me movimentar de um modo novo, desenvolvi músculos que nem sabia que tinha em meu corpo”, disse o ator, na entrevista coletiva para a imprensa. “Passei a ter uma nova apreciação por quem tem esse tipo de problema de saúde [a obesidade mórbida]. É preciso ter uma enorme força física e psíquica para conseguir viver com um corpo assim”, pontuou.

O Charlie do filme é uma pessoa de coração tão grande quanto sua silhueta, que não se perdoa por ter abandonado a filha. Ele pode não se desculpar, mas o roteiro, adaptado da peça homônima de Samuel D. Hunter, certamente o faz, sobretudo por um acúmulo de elementos trágicos na vida do protagonista, a ponto de torná-lo aos olhos do público quase um mártir.

O filme é inegavelmente feito para verter lágrimas do espectador, e a maior parte do público há de perceber a manipulação sentimental e, ainda assim, aceitá-la com facilidade. Porque, embora haja questões discutíveis inerentes ao projeto –a própria espetacularização da obesidade de Charlie, que nos é mostrada por vezes como um número circense–, o que fica é o aspecto humano e condescendente do filme, em grande parte atingido pela eficiência do elenco.

Fraser tem uma performance irretocável, para além da caracterização física; se o longa não ganhar algum troféu nas categorias mais importantes, ao menos o de melhor atuação masculina ele há de levar. E se sair de mãos abanando de Veneza, o Oscar dificilmente o deixará sem uma indicação.

Também muito bem recebido no festival, “Argentina, 1985”, do portenho Santiago Mitre, é uma revisita um período decisivo da história do nosso país vizinho. Mostra a complicada tarefa do promotor Julio Strassera, vivido por Ricardo Darín, que na década de 1980 capitaneou o processo que levou à prisão membros da alta cúpula da ditadura militar na Argentina, inclusive o ex-presidente Jorge Videla.

Foi a partir desse julgamento, em 1985, que foi possível a condenação de diversos outros políticos e militares que promoveram torturas, assassinatos e o desaparecimento de milhares de argentinos, entre os anos de 1976 e 1983.

Apesar de uma feitura convencional, o filme tem grande apelo, sobretudo pela maneira como Mitre articula comédia e drama e pela inserção de depoimentos inspirados em casos verídicos de quem sofreu na própria pele os abusos do governo militar no país.

Entre outros filmes na competição, destaca-se ainda o documentário “All the Beauty and the Bloodshed”, da americana Laura Poitras, em que visita a trajetória da fotógrafa Nan Goldin.

A partir de uma luta política recente da artista, contra uma família bilionária que patrocina museus importantes em todo mundo, mas que é dona de um laboratório que há décadas vende remédios altamente viciantes, o filme é um mergulho no universo artístico e pessoal de Goldin, configurando um precioso documento sobre uma das figuras mais proeminentes do underground nova-iorquino das décadas de 1970 e 1980.

Dois filmes de cineastas italianos sobre a questão de gênero foram recebidos de modo menos exaltado. “Monica”, de Andrea Pallaoro, mostra uma mulher trans que visita a mãe doente, anos após ter sido expulsa de casa –apesar do tema importante, o filme não traz grandes novidades sobre o assunto.

Já o autobiográfico “L’Immensitá”, de Emanuele Crialese, é mais feliz ao narrar a história de uma adolescente que não se reconhece como garota, destacando uma boa performance da jovem Luana Giuliani e a presença sempre luminosa de Penélope Cruz no papel de sua mãe.

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