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Morre Solange de Sampaio Godoy, que criou a primeira associação de amigos do Museu Histórico Nacional

SÃO PAULO (FOLHAPRESS) – Mesmo com a aposentadoria antes dos 60 anos, a museóloga e historiadora Solange de Sampaio Godoy continuou ativa. Estudou e envolveu-se em trabalhos em equipe e projetos.

Solange era carioca, mas morou em Resende (RJ) porque o pai era fazendeiro. Aos 11 anos, por desejo da mãe, ao notar que a inteligência da filha estava acima da média, voltou ao Rio para estudar num colégio interno. Três anos depois, com a morte do pai, passou a morar com a família em Copacabana.

O interesse por museus começou cedo. Em 1961, Solange graduou-se em museologia pelo MHN (Museu Histórico Nacional). Mais tarde, em 1974, formou-se em história na PUC do Rio, onde cursou mestrado em história social da cultura, com término em 2004.

A museóloga soma contribuições relevantes para o setor e passagens emblemáticas. Montou e dirigiu o extinto Museu do Primeiro Reinado (Casa da Marquesa de Santos) e lecionou no Museu Histórico Nacional (RJ), onde foi diretora de 1985 a 1989.

“Antes de ser diretora do Museu Histórico Nacional, minha mãe viajou aos Estados Unidos para entender como funcionava as associações de amigos dos museus -as entidades filantrópicas ligadas aos museus que recebem doações para auxiliar no desenvolvimento cultural. Ela criou a primeira associação de amigos do Museu Histórico Nacional. Foi a primeira do gênero no Brasil, nos anos 1980”, conta a jornalista Fernanda Godoy, 56, sua filha.

Solange lecionou no primeiro curso de museologia da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) e atuou como curadora em muitas exposições. A última -Leopoldina, princesa da Independência, das Artes e das Ciências- ficou em cartaz no Museu de Arte do Rio.

Desde o ano passado, estava a serviço da Funarj (Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro) como curadora do projeto de reabertura da Casa de Oliveira Vianna -onde viveu o jurista, historiador e sociólogo Francisco José de Oliveira Vianna-, em Niterói, e da Casa de Euclides da Cunha -dedicada ao autor de “Os Sertões”-, em Cantagalo.

Para o museólogo e diretor geral do Instituto Moreira Salles, Marcelo Araújo, que foi aluno de Solange, ela era uma das figuras mais influentes e importantes da museologia brasileira das últimas décadas.

“Profissional brilhante, extremamente generosa, que teve atuação diversificada, seja como professora ou à frente de diferentes museus e muitos projetos, principalmente no campo do museu de história. Ela pode ser vista como uma precursora da museologia social”, afirma Araújo.

A museóloga assina as publicações como “O Avô do Tempo: diário de um meteorologista” (2009), que partiu de sua dissertação de mestrado. O conteúdo aborda 28 volumes de registros deixados pelo avô Joaquim de Sampaio Ferraz, que iniciou as primeiras cartas sinópticas do tempo e previsões meteorológicas no Brasil, em 1915, segundo consta em sua biografia.

Solange casou-se pela primeira vez aos 20 anos. Da união nasceram Fernanda e Rodrigo Godoy. Há 39 anos, estava casada com o arquiteto Luís Antonelli, 66.

Ela morreu dia 15 de janeiro, aos 82 anos, por complicações de um AVC. Deixou o marido, dois filhos e a neta Valentina, 17.

“Minha mãe era generosa, acolhedora, amorosa e dedicada à família, aos amigos, colegas e ex-alunos. A casa dela estava sempre aberta a todos. Tinha alegria de viver e vontade de realizar coisas. Ela foi uma pessoa com sabedoria para viver. Construiu uma vida produtiva e bonita”, diz Fernanda.

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