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EDP anuncia fechamento de capital no Brasil, operação pode mover R$6,1 bi

Por Letícia Fucuchima

SÃO PAULO (Reuters) – O grupo português de energia EDP anunciou nesta quinta-feira um plano para fechar capital da EDP Brasil, visando trazer maior flexibilidade na gestão financeira e operacional para a subsidiária local, em operação que pode movimentar cerca de 6,1 bilhões de reais, segundo cálculos de analista.

O processo de fechamento de capital, que ocorre quase 20 anos depois da companhia de energia elétrica ter realizado o IPO no Brasil, já foi formalizado na CVM, com pedido de registro de oferta pública para aquisição (OPA) da totalidade das ações ordinárias da EDP Brasil.

O preço atribuído pela EDP para cada ação objeto da OPA será de 24,00 reais por ação, a ser pago à vista e em moeda corrente nacional, equivalente a um prêmio de 22,26% sobre o preço de fechamento da ação na véspera, de 19,63 reais.

A EDP é controladora da EDP Brasil, sendo detentora de 56% das ações. Aproximadamente 41,3% dos papéis da companhia estão em “free float”, e os 2,6% restantes, em tesouraria.

O cronograma esperado para a oferta é de pelo menos sete meses, com expectativa de conclusão até o final deste ano. Para financiar a operação, a EDP Portugal anunciou que fará um aumento de capital no valor de 1 bilhão de euros.

O BTG Pactual atuará como instituição intermediária da OPA. Também trabalharão como assessores da operação o banco Morgan Stanley e o escritório de advocacia Mattos Filho.

Segundo a matriz portuguesa, a proposta tem por objetivo simplificar a estrutura corporativa e organizacional, conferindo maior flexibilidade na gestão financeira e operacional de suas operações no Brasil, onde o grupo atua também com a EDP Renováveis, braço de geração ligado diretamente à controladora.

Em coletiva de imprensa, o CEO da EDP, Miguel Stilwell d’Andrade, reforçou o compromisso da companhia com o Brasil, dizendo que o grupo é um investidor de longo prazo, que já passou por vários ciclos econômicos e políticos, e continua a ver boas oportunidades de crescimento.

Apesar disso, o plano estratégico da EDP para 2023-2026, apresentado nesta quinta-feira, prevê uma redução da exposição do grupo ao Brasil, com a contribuição do país ao Ebitda total caindo de 25% em 2022 para 14% em 2026.

A companhia não abriu valores específicos de investimentos para o Brasil nos próximos anos, mas disse que sua operação na América do Sul –onde o mercado brasileiro é o mais representativo– deve receber 15% dos 25 bilhões de euros em aportes previstos até 2026.

Analistas avaliariam positivamente a oferta da EDP Portugal, apontando que o preço oferecido por ação na OPA embute um prêmio atrativo aos acionistas.

“O preço que será pago pelas ações é 4,2% acima do nosso preço-alvo de 23 reais/ação, implicando uma TIR (taxa interna de retorno) real de 8,5%, o que consideramos como atraente”, disse a analista da XP Maíra Maldonado.

A equipe do Credit Suisse notou que o movimento da controladora está “fora do consenso”, já que várias elétricas europeias têm anunciado desinvestimentos diante de um contexto de alta alavacangem.

“Nós acreditamos que para sustentar tal proposta a EDP Portugal deve estar mais confiante do mercado no que diz respeito à renovação dos contratos de concessão de distribuição… e ao potencial de crescimento com bons retornos do setor no Brasil”, escreveram Carolina Carneiro e Rafael Nagano, do Credit, em nota a clientes.

Os analistas disseram ainda que os 24 reais propostos por ação na OPA estão próximos do preço-alvo do banco, de 25,30 reais, e que o custo total da aquisição das ações pela EDP Portugal deve somar 6,1 bilhões de reais.

A EDP ingressou no Brasil em 1996, com a compra de uma participação na antiga Cerj (hoje Enel Rio), e abriu capital na bolsa brasileira em 2005.

Hoje, a companhia de energia elétrica atua nos segmentos de distribuição, geração, transmissão e oferta de soluções e serviços. Na distribuição, atende cerca de 3,8 milhões de clientes por meio de duas concessionárias, em São Paulo e Espírito Santo, além de ser importante acionista da distribuidora estatal Celesc, de Santa Catarina.

Nos últimos anos, a EDP fez uma reformulação de seu plano estratégico no Brasil, conduzindo uma rotação de ativos com o objetivo de sair de setores menos estratégicos e levantar capital para investir em segmentos que considera mais atrativos, como o de geração solar. Nesse processo, a empresa vendeu uma hidrelétrica e parte de seu portfólio de linhas de transmissão.

A companhia também está encabeçando uma discussão importante sobre a renovação das concessões de distribuição de energia no Brasil. A EDP Espírito Santo é a primeira de quase 20 distribuidoras que terão expiração de contratos a partir de 2025. A União ainda não definiu se as concessões serão renovadas ou se promoverá novos leilões.

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