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BC mantém Selic em 13,75%, prega cautela e não sinaliza corte de juros à frente

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) – O Banco Central decidiu nesta quarta-feira manter a Selic em 13,75% ao ano e não apresentou sinal concreto sobre um eventual afrouxamento monetário à frente, contrariando expectativas no mercado e no governo por uma indicação sobre o momento em que poderia iniciar os cortes na taxa básica de juros.

“O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que mostrou deterioração adicional”, informou o comunicado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), reafirmando que o colegiado poderá retomar as altas na Selic se necessário para reduzir a inflação.

No documento, o BC ressaltou que a conjuntura marcada por alta volatilidade nos mercados e expectativas de inflação desancoradas demanda maior atenção na condução da política monetária, apesar de uma redução de incerteza no quadro fiscal de curto prazo.

A autoridade monetária manteve simetria entre fatores que geram risco de baixa e de alta para a inflação, mas fez mudanças nos itens destacados.

Nos riscos de alta para os preços, o BC manteve a incerteza sobre o arcabouço fiscal e passou a ressaltar o impacto da proposta, ainda não apresentada pelo governo, sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública. Também foi enfatizado o risco de uma desancoragem maior ou mais duradoura das expectativas para a inflação para prazos mais longos.

Embora os preços ao consumidor anualizados tenham esfriado nos últimos meses, atingindo 5,6% em fevereiro, as expectativas do mercado para a inflação pioraram desde a reunião de política monetária de fevereiro.

Nos fatores de baixa para a inflação, o BC manteve o risco de desaceleração global, incluindo como elemento as condições adversas no sistema financeiro global –em meio ao colapso de bancos nos Estados Unidos e à crise no europeu Credit Suisse.

“Os episódios envolvendo bancos nos EUA e na Europa elevaram a incerteza e a volatilidade dos mercados e requerem monitoramento”, afirmou.

Ainda como risco de baixa, o BC acrescentou uma eventual desaceleração na concessão de crédito no Brasil maior do que seria compatível com o ciclo de política monetária.

O diretor de pesquisas para América Latina do BNP Paribas, Gustavo Arruda, avaliou que o comunicado desta quarta tem tom mais “hawkish” (austero) do que a da reunião de fevereiro, que já era “bastante duro”.

“Provavelmente vai atingir o mercado diminuindo a probabilidade de cenários com corte de juros nas próximas reuniões”, disse, prevendo que o BC inicie cortes nos juros apenas em 2024.

PROJEÇÕES PIORAM

O BC voltou a piorar suas projeções para os preços. A autoridade monetária informou que, em seu cenário de referência, as estimativas para a inflação estão em 5,8% para 2023 (contra 5,6% na reunião anterior) e 3,6% em 2024 (ante 3,4%).

O cenário de referência do BC leva em conta a trajetória para os juros sinalizada por analistas do mercado na pesquisa Focus –a qual tem apontado a expectativa de corte de juros a partir de setembro deste ano.

Em cenário alternativo, no qual o BC deixa a Selic constante ao longo de todo o horizonte relevante, as projeções da autarquia também subiram, de 5,5% para 5,7% em 2023 e de 2,8% para 3,0% em 2024.

A autoridade monetária reafirmou que a inflação ao consumidor e a inflação subjacente (que desconsidera fatores de maior volatilidade) seguem acima do intervalo compatível com o cumprimento das metas.

Os alvos para a inflação estão estabelecidos em 3,25% neste ano e 3,00% em 2024 e 2025, em todos os casos com tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.

A manutenção da taxa básica de juros pela quinta reunião consecutiva foi decidida por unanimidade pela diretoria do BC e veio em linha com a expectativa do mercado, de acordo com pesquisa Reuters, segundo a qual todos os 30 economistas consultados esperavam continuidade da Selic no mesmo nível.

O segundo encontro do Copom após o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva ocorreu em meio ao prosseguimento das críticas do presidente à condução da política monetária, além de uma mudança no cenário externo com sinais de uma crise bancária global.

A opção pela manutenção da Selic ocorreu horas após o Banco Central dos Estados Unidos ter anunciado uma elevação em sua meta de juros em 0,25 ponto percentual, afirmando ser possível “algum” aperto adicional à frente em sua estratégia para conter a inflação.

Com a decisão, o BC manteve a Selic a um patamar 11,75 pontos acima da mínima histórica de 2% ao ano, atingida em meio à pandemia de Covid-19 e que vigorou até março de 2021. A taxa básica segue no nível mais alto desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano.

O presidente Lula vem pedindo repetidamente que os custos dos empréstimos fiquem mais baixos, ressaltando na terça-feira que a taxa Selic atual é uma “irresponsabilidade”. Seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem adotado tom mais amistoso com o BC, mas também questiona o patamar dos juros.

Haddad tem argumentado que o governo vem adotando medidas que abrem caminho para redução dos juros, como o pacote anunciado em janeiro para ampliar a arrecadação e reduzir gastos e a reoneração dos combustíveis –esta última citada pelo BC como fator para redução de incerteza no curto prazo.

No entanto, um dos principais focos de atenção do mercado e do BC para avaliar as perspectivas das contas públicas, a proposta de novo arcabouço fiscal ainda não foi apresentada. O texto chegou a ser prometido para março, mas deve ser divulgado apenas em abril.

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