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Indígenas do Vale do Javari são ameaçados com fuzis após operação de apreensão de madeira

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quatro homens encapuzados e armados com fuzis ameaçaram indígenas do Vale do Javari no último domingo (16). A invasão aconteceu no meio da tarde, na aldeia Irari 2, do povo kanamari, no Amazonas.

O caso teria acontecido após uma operação da PF (Polícia Federal) que apreendeu madeira extraída ilegalmente na região.

Os invasores, que falavam espanhol, chegaram ao local em um bote de alumínio, procurando pelo cacique do lugar, que não estava no local e não teve o nome divulgado.

Lideranças do povo Kanamari registraram boletim de ocorrência relatando a invasão e, nesta quarta-feira (19), agentes da PF se dirigiram à região, acompanhados de indígenas.

De acordo com o policial civil Alex Perez, que comanda a delegacia de Atalaia do Norte (AM), por enquanto apenas o denunciante foi ouvido. A PF está monitorando a região para garantir a segurança dos indígenas, mas ainda não foi decidido.

A aldeia Irari 2 fica na região conhecida como médio Javari, no noroeste da terra indígena, perto da fronteira do Amazonas com o Peru.

A terra indígena do Vale do Javari, onde vivem o maior número de povos isolados do mundo, ganhou reconhecimento internacional no ano passado, após o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. Eles foram mortos enquanto investigavam a pesca ilegal na região.

À época, organizações indígenas e especialistas denunciaram o aumento da violência e a presença do crime organizado na região, relacionado a atividades irregulares de pesca e extração de madeira.

Uma base fluvial da PF foi instalada no porto de Atalaia do Norte no final de março.

Segundo o OPI (Observatório dos Povos Isolados), os kanamari enviaram uma carta à Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) pedindo a presença urgente dos órgãos de fiscalização na região na qual as ameaças ocorreram.

“A retirada de madeira e a pesca ilegal feita por criminosos dentro das nossas aldeias têm nos tornado reféns do medo”, diz um trecho da carta, publicado pelo OPI. “A morosidade do Estado brasileiro tem nos causado grandes perdas e não estamos dispostos a perder mais nenhum dos nossos”.

Em nota, a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) disse que acompanha o caso por meio da unidade do órgão na região. “Após tomar conhecimento da ameaça sofrida pelo presidente da Associação do Povo Kanamari do Vale do Javari, a Funai informou a Polícia Federal sobre o ocorrido”, diz o texto.

O órgão também afirma que se colocou à disposição das forças de segurança pública para tratativas sobre ações de combate ao tráfico de drogas, pesca, caça ilegal e contrabando de madeira na região para evitar que as populações indígenas sejam alvos de novos ataques.

Procurado, o Ministério dos Povos Indígenas disse que não foi notificado sobre o caso e, portanto, não iria se pronunciar. Já a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas não respondeu até a publicação desta reportagem.

De acordo com a OPI, em outubro do ano passado, uma liderança kanamari foi ameaçada de morte por pescadores ilegais quando navegava na mesma região em que Bruno e Dom foram assassinados.

Em março, líderes dos povos matis, kanamaris, mayorunas e marubos protestaram em Atalaia do Norte para que o governo agilizasse a nomeação de novos coordenadores da Funai e da Secretaria Especial de Saúde Indígena no Javari.

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