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INSS: Criminosos utilizam documentos de advogados para fraudar recebimento de benefícios

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INSS: Criminosos utilizam documentos de advogados para fraudar recebimento de benefícios Fraudadores conseguem acesso ao sistema ‘Meu INSS’ para roubar registros profissionais de advogados previdenciários. Em seguida, dentro do próprio sistema, pedem alteração da conta bancária de segurados e desviam o recebimento de benefícios.

Criminosos estão utilizando o registro profissional de advogados para conseguir cometer fraudes dentro do ‘Meu INSS’. O ‘Meu INSS’ é um serviço online oferecido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que permite que os cidadãos acessem informações e serviços relacionados a seus benefícios previdenciários, como aposentadoria, pensão por morte e auxílio-doença.

Os criminosos alteram a conta bancária de recebimento do benefício e passam a receber os valores como se fossem os próprios segurados. Primeiro, eles conseguem acesso a usuários e senhas do ‘Meu INSS’ por meio de vazamento de dados.

Depois de entrarem no sistema se passando pelo beneficiário e solicitarem a alteração da conta bancária, é necessário anexar a cópia de um documento original do titular do benefício. Mas os criminosos estão anexando documentos de terceiros, que não têm relação alguma com o segurado.

Mesmo com um documento não compatível com o do titular, o sistema do INSS autoriza a mudança de conta bancária.

A advogada previdenciária Fernanda Angeli é uma das vítimas. Ela teve conhecimento de pelo menos três vezes em que criminosos utilizaram o documento profissional dela para fraudar benefícios.

“Recebi mensagens no WhatsApp do meu escritório de uma pessoa na Bahia falando que meu documento estava sendo usado no ‘Meu INSS’ dele para alterar o banco de pagamento”, conta a advogada que mora em Piracicaba, no interior de São Paulo.

Essa pessoa era Carlos Henrique Deiro, aposentado, que reside em Lauro de Freitas, região metropolitana da capital baiana.

“Todo mês eu olho minha aposentadoria. Estava tentando entrar no ‘Meu INSS’ e não estava conseguindo. Tive que alterar minha senha para conseguir entrar e vi que tinham alterado meus dados e o meu banco de pagamento”, afirma o aposentado.

Ele, então, viu que o documento anexado como sendo dele próprio fazendo a solicitação da alteração de conta bancária era, na verdade, o documento de Fernanda.

Segundo advogados ouvidos pela reportagem, os criminosos conseguem acesso a carteiras da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) por meio do próprio sistema ‘Meu INSS’. Processos relacionados a pedidos de benefícios do INSS ficam dentro desse sistema, mas, em teoria, só as partes de um processo podem ter acesso a ele.

Dentro dos processos, ficam anexados os documentos dos advogados. Os criminosos estão conseguindo acessar esses processos para roubar os documentos e utilizá-los de forma fraudulenta. Portanto, na hora de solicitar a alteração da conta bancária de um segurado, o criminoso coloca em anexo o documento de um advogado como se fosse o documento do próprio beneficiário.

Mesmo não sendo correspondente ao nome do beneficiário, o sistema do INSS aceita a documentação e permite a mudança de conta. “O robô que analisa isso não faz o serviço corretamente”, explica Fernanda, advogada vítima da fraude.

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Problema recorrente

Essa não foi a primeira vez que o aposentado Carlos Henrique Deiro sofreu uma tentativa de fraude em que criminosos pediram mudança da conta bancária para receber o benefício em nome dele. Foram, ao todo, três tentativas de fraude na aposentadoria dele entre outubro do ano passado e abril deste ano.

Em cada tentativa, os criminosos utilizaram o documento de um advogado diferente. Além disso, pediram a alteração para contas bancárias em estados diferentes: Minas Gerais, Pernambuco e Paraíba.

“É um sentimento de revolta. O atendimento do INSS é péssimo, é um descaso. Da primeira vez, o atendente me falou que eu tinha que ir até o banco que o fraudador cadastrou, em Minas Gerais, para resolver. Como eu vou fazer isso? Eu moro na Bahia”, desabafa.

Nas duas primeiras vezes, o aposentado conseguiu resolver o problema em agências bancárias na cidade onde vive. A terceira tentativa de fraude é recente e ainda não foi resolvida. “Perco o dia todo dentro de uma agência”, diz o aposentado, que afirma que o INSS pede para ele resolver diretamente com os bancos, pois nada pode fazer para ajudá-lo.

A beneficiária Camila Forte, moradora de Campinas, em São Paulo, também foi vítima da fraude. Os criminosos invadiram o ‘Meu INSS’ dela e solicitaram a alteração da conta bancária anexando o documento de uma advogada como se fosse da própria Camila.

Além disso, alteraram dados pessoais como celular e e-mail dela, para que a beneficiária não recebesse atualizações sobre esse pedido.

“Eu descobri no dia em que eu entrei no sistema para acompanhar um outro pedido, e vi que eles tinham feito a solicitação de mudança de conta bancária dois dias antes”, conta a segurada. “O INSS me orientou a procurar o gerente do meu banco, que era só isso que eles poderiam fazer.”

A advogada previdenciária Ana Paula Roca também teve o documento utilizado de maneira fraudulenta por criminosos. Eles solicitaram a alteração de conta bancária de dois segurados do INSS utilizando o documento dela. Ambos os casos aconteceram em abril deste ano.

“Só soube que estavam usando meu nome porque advogados de outras cidades me ligaram para avisar que juntaram meu documento no pedido de transferência de pagamento do benefício de clientes deles”, conta.

Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP) afirma que está ciente e acompanha os casos de profissionais da advocacia que estão sendo atingidos pelo esquema de fraudes de segurança ao sistema do INSS.

Por meio da Comissão de Direito Previdenciário, a OAB-SP está aberta a receber denúncias e orientar os advogados que tenham seus dados envolvidos nos casos. Junto à Superintendência Regional do Instituto Nacional do Seguro Social no Sudeste, a Ordem paulista também está trabalhando em soluções efetivas para que os profissionais não sejam prejudicados pelo vazamento de dados e pelas fraudes de segurança.

O Ministério da Previdência Social e o INSS foram questionados pela reportagem, mas não se posicionaram. Fonte: G1

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