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China cancela viagem de chanceler da UE e recebe chefe do Tesouro dos EUA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A China cancelou nesta terça-feira (4) uma viagem do chanceler da União Europeia, Josep Borrell, que estava agendada para a próxima semana, sem dar explicações. Com a visita, a Europa tentaria reduzir os riscos das relações com esse país que já foi definido pelo bloco como “um parceiro para cooperação e negócios, um concorrente econômico e um rival sistêmico”.

“Infelizmente, fomos informados pelos homólogos chineses de que as datas previstas na próxima semana não são mais possíveis e que devemos procurar alternativas”, disse o porta-voz Nabila Massrali à agência de notícias Reuters em um comunicado.

Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (5), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, não deu detalhes sobre as motivações do cancelamento, mas tampouco descartou uma nova tentativa. “Receberemos o representante Borrell na China o mais cedo possível para ambos os lados”, disse ele.

O chanceler chegaria a Pequim na próxima segunda (10) para se encontrar com seu homólogo chinês e discutir “questões estratégicas”, incluindo direitos humanos e Guerra da Ucrânia, afirmou no domingo (2) o embaixador da UE na China, Jorge Toledo. Na mesma ocasião, ele disse que as duas partes teriam diálogos sobre economia e tecnologia em setembro.

Esta é a segunda vez neste ano que uma visita de Borrell para a China é cancelada —em abril, ele não pôde viajar depois de receber um teste positivo para Covid-19. Na época, o chanceler publicou um texto no mesmo dia em que discursaria em Pequim.

“Vai ser extremamente difícil, senão impossível, que a União Europeia mantenha uma relação de confiança com a China se não se verificar ajuda na busca de uma solução política com vista à retirada da Rússia do território ucraniano”, escreveu. A China diz querer intermediar a paz no conflito, mas sua proposta de negociação, divulgada em fevereiro, teve respostas mornas tanto da Rússia quanto da Ucrânia.

A viagem à China da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, por outro lado, segue de pé. A primeira visita ao país da ex-presidente do Fed (Federal Reserve), banco central dos Estados Unidos, tentará recalibrar os laços entre as duas maiores economias do mundo —uma promessa que se estende há alguns meses.

Autoridades dos EUA dizem esperar discussões “sinceras” durante a viagem, que começa nesta quinta (6) e vai até domingo (9). Na última segunda (3), Pequim anunciou abruptamente que limitaria as exportações de gálio e germânio, dois metais amplamente usados em semicondutores —dispositivos que seguem escassos devido aos impactos da pandemia. Junto com uma nova lei contra a espionagem, a medida é vista como prejudicial para a indústria americana.

As autoridades de Pequim, por sua vez, estão preocupadas com os planos do governo do democrata Joe Biden de limitar os investimentos das empresas americanas na China —a economia no gigante asiático está se recuperando mais lentamente do que o esperado devido à política de isolamento na pandemia. No ano passado, os EUA também impuseram restrições às exportações de semicondutores e componentes tecnológicos para a China.

A tão esperada viagem de Yellen ocorre semanas depois que o secretário de Estado, Antony Blinken, visitou Pequim e concordou com o líder chinês, Xi Jinping, que a rivalidade dos dois países não deveria se transformar em conflito —as comunicações militares entre as duas nações estão congeladas.

Para Wu Xinbo, professor da Universidade Fudan da China, a secretária é uma “voz da razão” dentro do governo Biden, e os chineses esperam que a visita possa “melhorar o clima” para futuras negociações. Já Derek Scissors, membro do American Enterprise Institute, afirmou que Yellen estava embarcando em “uma viagem vazia”.

“Do lado da segurança, os chineses não falam conosco, então parece que o lado econômico está sendo usado como um substituto”, disse ele. “Não é irrelevante, mas é estranho.”

As relações diplomáticas e econômicas entre as duas potências têm se deteriorado gradualmente desde a presidência de Donald Trump. Biden, embora eventualmente faça acenos ao país rival, disse durante um recente evento de campanha na Califórnia que Xi era um ditador, o que Pequim considerou uma provocação.

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