Economia

China tem a chave para evitar calote da Argentina no FMI, mas o preço é desconhecido

Por Jorgelina do Rosario e Karin Strohecker

LONDRES (Reuters) – Uma ajuda da China fez com que a Argentina evitasse um calote com o Fundo Monetário Internacional (FMI) pela segunda vez em 30 dias, quando o país sem dinheiro utilizou quase 3 bilhões de dólares de uma linha de swap cambial de Pequim para pagar o credor multilateral.

Acessar o iuan para fazer o pagamento não apenas ofereceu uma tábua de salvação para a terceira maior economia da América Latina, que luta contra uma aguda escassez de dólares, mas também permitiu que o Fundo, com sede em Washington mantivesse vivo um programa de 44 bilhões de dólares com o país, seu maior devedor individual, dizem analistas.

No entanto, crescem as dúvidas sobre os termos e condições do acordo entre os bancos centrais dos dois países.

Embora a China seja membro do FMI, também é o maior credor bilateral do mundo em desenvolvimento, com a Argentina como um dos maiores receptores de investimentos chineses na América Latina — inclusive de financiamento para projetos ferroviários e de energia, bem como mineração. Por sua vez, a China é um importante cliente das exportações argentinas de soja, milho e carne de aves.

Sob os termos de um empréstimo do FMI acordado em 2022, o financiamento é liberado em parcelas com base em revisões regulares, confirmando que Buenos Aires tomou as medidas necessárias para fortalecer a economia, mas divergências sobre as políticas atrasaram as negociações recentes.

A Argentina chegou a um acordo preliminar — ou acordo de nível de equipe — com o FMI na sexta-feira, mas só terá acesso aos 7,5 bilhões de dólares associados assim que seu conselho executivo der a aprovação final na segunda quinzena de agosto.

Enquanto isso, o país precisa fazer os pagamentos de um programa fracassado de 2018.

Sem tempo e dinheiro, a Argentina utilizou o equivalente a 1,1 bilhão de dólares em iuanes em junho e 1,7 bilhão de dólares em julho para cobrir parte de dois pagamentos de mais de 5 bilhões de dólares ao Fundo.

“A China está simplesmente agindo como um empréstimo-ponte de curto prazo”, disse Mark Sobel, ex-integrante sênior do Tesouro dos EUA, à Reuters. “A China tem todos os incentivos para administrar rigidamente os saques argentinos sob as linhas de swap, pois os riscos são muito altos.”

ETIQUETA DE PREÇO DESCONHECIDA

Nem a China nem a Argentina divulgaram detalhes do empréstimo-ponte, e pouco se sabe sobre a tábua de salvação de moeda de 19 bilhões de dólares assinada há mais de uma década.

“Os swaps chineses são altamente opacos”, disse Sobel, que foi representante dos EUA no FMI de 2015 a 2018.

O banco central da China e o banco central e o Ministério da Economia da Argentina não responderam aos pedidos de comentários.

Após uma viagem à China em maio do ministro da Economia, Sergio Massa, os países concordaram em dobrar a parte livremente acessível do acordo de swap de 35 bilhões de iuanes (4,94 bilhões de dólares) para 70 bilhões de iuanes, o que permite que a Argentina pague pelas importações e agora pague a dívida com o FMI do empréstimo de 2018.

“A linha funciona como qualquer outro empréstimo de balança de pagamentos de curto prazo, embora o acesso aos recursos seja restrito e caro”, disse Martin Castellano, chefe de pesquisa da América Latina do Instituto de Finanças Internacionais.

Os Estados Unidos são o maior contribuinte do FMI, mas Washington tem discordado cada vez mais da China sobre como resolver reestruturações de dívidas com países como Zâmbia e Sri Lanka. As relações também estão em um momento crucial sobre questões polêmicas, como Taiwan e a invasão da Ucrânia pela Rússia.

“Do ponto de vista geopolítico, isso aproxima a Argentina da esfera chinesa”, disse Alejandro Werner, diretor fundador do Georgetown Americas Institute.

“Isso reflete o quanto a diplomacia financeira externa chinesa pode ser mais ágil e é uma virtude adicional que os países veem em manter um relacionamento construtivo com a China”, acrescentou Werner, que era chefe do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI quando o empréstimo da Argentina em 2018 foi aprovado.

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