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De Niterói para Dinamarca: documentário sobre cultura ‘ballroom’ será exibido em festival de Copenhague

Em 2024, o Festival Internacional de Documentários de Copenhague, ou CPH:DOX, abre suas cortinas para uma seleção de filmes que prometem desafiar perspectivas e despertar reflexões. Entre as obras selecionadas nesta edição está o documentário “This is Ballroom” (Salão de Baile), dirigido por Juru e Vitã. Produzido pela cena de artistas fluminenses, o longa-metragem promove um mergulho sobre a cultura que resgata a potência da comunidade preta LGBTQIAPN+.

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A Cultura Ballroom, derivada do termo em inglês “salão de baile”, é um movimento cultural protagonizado por pessoas LGBTQ+ não brancas que, em resposta às violências sistemáticas que enfrentavam, encontraram na organização de bailes performáticos uma forma de resistência. O movimento criado na década de 60, em Nova York, é o tema do filme que traz o resgate e adaptações do movimento artístico norte americano como possibilidade de expressão de identidades, de gêneros e potenciais artísticos.

— Queremos proporcionar ao espectador uma experiência de imersão no universo, com o nosso olhar ‘de dentro — explica a roteirista, diretora e mestra em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Vitã.

— A ballroom é um lugar de potencialização desses corpos dissidentes, um espaço criado por e para pessoas trans e pretas, especialmente, poderem resistir às opressões e celebrar suas existências —complementa o também roteirista e diretor, além de mestre Estudos Contemporâneos das Artes pela UFF, Juru Ju Bee.

“Salão de Baile” mergulha na cena ballroom do Rio de Janeiro, onde indivíduos negros e/ou LGBTQIAPN+ encontram um espaço de liberdade para explorar novas dimensões de identidade, gênero e talento artístico através da dança.

— Ver nossa cena receber esse merecido destaque enche meu coração de esperança. Somos jovens criados em comunidades, muitos de nós negros, trans, lutando contra o sistema todos os dias. Mas dentro da comunidade ballroom, encontramos um espaço para sonhar alto e aspirar a algo maior do que nossa realidade impõe — explica a pioneira da cena ballroom fluminense, Rothyer Kali, que faz parte do elenco.

Nas apresentações, uma variedade de critérios são avaliados, desde estética e performance até musicalidade e desenvoltura, em uma série de modalidades que se desdobram ao longo da batalha.

Com uma trilha sonora original criada especialmente para o filme pelos DJs b o u t e EVEHIVE, que misturam ritmos brasileiros (como o funk e um toque de capoeira às batidas de house típicas da cena ballroom internacional), o filme também traz o apoio da cena fluminense, unida em diferentes ‘houses’ (casas) que funcionam como famílias alternativas.

Entre os coletivos destacados no filme estão a House of Alafia, House of Blyndex, House of Bushidö, House of Cabal, The Royal Pioneer Kiki House of Cazul, Casa de Cosmos, Casa de Dandara, Casa dy Fokatruá, House of Império, Casa de Lafond, House of Mamba Negra, House of Raabe, e 007 (designação para aqueles que não estão associados a uma casa específica).

Financiado pelo 2º Edital de Fomento ao Audiovisual da Prefeitura de Niterói – Fundação de Arte de Niterói (FAN), e em colaboração com a RioFilme, órgão da Secretaria de Cultura da Prefeitura do Rio. O filme será exibido no CPH:DOX nos dias 14, 15, 19 e 23 de março, na cidade de Copenhague, Dinamarca. Ele faz parte da mostra “Sound & Vision”, dedicada a obras que exploram a linguagem musical.

O Festival Internacional de Documentários de Copenhague ou CPH:DOX é um evento anual de cinema documental, realizado desde 2003 em Copenhague, Dinamarca. É um dos mais importantes festivais europeus de documentários. O tema deste ano é “Body Politics”. Nessa edição foram selecionados apenas dois filmes brasileiros. Além de “Salão de Baile” (This is Ballroom), entra na mostra também o longa Eros, de Rachel Daisy Ellis.

A cultura

Originária nos Estados Unidos a partir dos concursos de beleza drag, a comunidade teve um marco significativo na década de 60, quando a rainha negra Crystal LaBeija desafiou a hegemonia das rainhas brancas. Em 1972, em parceria com uma amiga, ela criou o Primeiro Baile Anual da Casa de LaBeija, estabelecendo não apenas o primeiro baile, mas também a primeira “house”.

Essas “houses” eram espaços, tanto físicos quanto simbólicos, liderados por uma figura materna ou paterna, que acolhiam e ofereciam apoio para jovens negros e latinos da comunidade LGBTQIA+ que enfrentavam vulnerabilidade ou haviam sido expulsos de casa.

Ao longo do tempo, os concursos passaram a abranger uma diversidade de identidades de gênero, incluindo travestis, mulheres trans, transmasculinos, não bináries, homens cis e mulheres cis em geral. Novas modalidades surgiram além dos concursos de beleza e moda, incluindo o estilo de dança conhecido como voguing. Obras audiovisuais como “Vogue”, de Madonna, “Paris is Burning”, de Jennie Livingston, e as séries “Pose” e “Legendary” destacam elementos da cultura ballroom.

Em 2015, as duas primeiras casas ballroom foram estabelecidas no Rio de Janeiro, marcando o início da organização da cena no Brasil, impulsionada pela disseminação através das mídias digitais e redes sociais. Dois pilares fundamentais da cultura ballroom são os bailes e a ideia de família. Em 2016, ocorreu a primeira “ball”. Atualmente, quase toda semana há um baile ocorrendo em algum lugar do país, demonstrando o crescimento e a resiliência desse movimento cultural.

— Este documentário é mais do que um simples registro; é um testemunho de resiliência, determinação e amor. Acredito que aqueles que assistirem serão capazes de compreender a amplitude e a importância de nossa “realidade escape”, nossa comunidade diversa e vibrante, sem os filtros da romantização — conclui Rothyer.

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