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A gratidão do Rio a São Jorge: festa nas ruas movimentam comércio em toda cidade

Um dia de devoção e gratidão. Foi assim a data dedicada a São Jorge, padroeiro do Estado do Rio e um dos santos mais populares entre os cariocas. Mais de um milhão de fiéis lotaram igrejas, seguiram procissões, se divertiram em festas regadas a feijoada. Foi a fé que levou a dona de casa Fábia Soares, de 23 anos, à igreja da Praça da República, no Centro, acompanhada das filhas Sofia, de 7, e Manuele, de 2, para agradecer pela cura da caçula. Nas mãos, em meio à multidão, ela carregava uma imagem do santo.

— Ela nasceu com muitos machucadinhos na cabeça. O médicos não sabiam o que era. Então, eu prometi visitar a igreja dele durante sete anos, caso São Jorge curasse a minha caçula. E aconteceu. Poucas semanas depois, ela melhorou — disse a mãe.

Festa antes do amanhecer

A gratidão de devotos como Fábia ajuda a aquecer o comércio religioso no entorno das igrejas. É gente que compra velas, fitinhas, imagens e outros artigos. No caso específico de São Jorge, a tradição das feijoadas estende esse movimento a bares e restaurantes. A visitação de fiéis à igreja matriz de Quintino, na Zona Norte, a que atrai a maior parte dos seguidores, começa dias antes, o que gera uma arrecadação em doações e compras de produtos religiosos suficiente para custear 80% dos gastos da paróquia ao longo do ano.

— O movimento não é apenas no dia de São Jorge, quando temos do lado de fora também inúmeras barracas com pessoas vendendo seus produtos. Ao longo do mês, movimenta todo o comércio em volta. A pessoa vem visitar a igreja e acaba almoçando num restaurante próximo ou vai a um bar depois — conta o pároco da igreja, padre Dirceu Rigo.

A celebração ontem em Quintino começou antes do dia nascer com queima de fogos. Também teve projeções nas paredes da igreja, e um drone levantou a imagem do santo guerreiro, como é conhecido entre os devotos. A poucos metros da igreja, o bar e restaurante Casa de Jorge já virou um clássico da região. Três grupos de samba se revezaram para garantir música das 8h às 23h. O caldeirão de um metro de diâmetro cozinhou no fogo de lenha a feijoada. O dono do estabelecimento, Gregório dos Santos, conta que há 31 anos o prato faz sucesso, graças ao padroeiro.

— O dia de São Jorge é um dia atípico. A gente espera muito essa data porque somos devotos fervorosos e comerciantes. As pessoas vêm de todo lugar para se divertir. Nessa época, precisamos contratar mais gente no regime temporário porque o volume de trabalho aumenta muito. Por aqui, São Jorge mobiliza muito mais pessoas do que o carnaval e o Natal, por exemplo — compara o comerciante, que às 11h já contabilizava um faturamento de R$ 30 mil.

O vendedor de terços, amuletos e bijuterias, Francisco de Assis, de 30 anos, viaja o Brasil com a mercadoria. No Rio, só trabalha no dia de São Jorge e em Quintino.

Ontem, além dos fiéis que iam para a igreja e de quem passeava pelos arredores, a Rua Clarimundo de Melo foi tomada por barraquinhas de artigos religiosos, de petiscos e bebidas, que se enfileiravam em busca de seu quinhão. Setenta foram autorizadas pela prefeitura. Por volta das 10h30, mais de dez táxis se enfileiravam no fim da rua, aguardando os passageiros. Um dos motoristas, que preferiu não se identificar, disse que o movimento estava aquecido por conta do feriado. Ele falou que, assim que chegou, já fez logo a primeira corrida — não precisou nem esperar no ponto.

— Rende, mas já teve ano melhor. Aumentou muito o número de vendedores, então os clientes se distribuem — reclama Francisco. — Esse ano não vendi nem R$ 2 mil ainda. Em 2022, eu vendi R$ 5 mil. Em 2023, R$ 3,5 mil. E vem caindo.

A poucos metros da igreja, o Bar do Vavá reuniu dezenas de devotos em uma roda de samba das 8h às 23h. O evento acontece desde a fundação do estabelecimento, há 24 anos. Para o dono, Francisco Evanildo Almeida, de 52 anos, a celebração é como se fosse o Natal de Quintino.

— A festa de São Jorge ajuda a divulgar o nosso bairro, a economia melhora. É como se fosse o Natal, porque é uma data que traz as pessoas de outras cidades e até estados para conhecer nossa festa. As pessoas sempre veem Quintino como um bairro violento, mas nós temos muitas coisas legais — diz o comerciante.

Por ser um feriado local — apenas no Estado do Rio —, o dia de São Jorge atrai pouca gente de fora, e a movimentação nas igrejas é garantida mais pelos próprios cariocas. O presidente do Sindicato dos Bares e Restaurantes (SindRio), Fernando Blower, diz que a data é lucrativa para os estabelecimentos voltados ao samba e à tradicional feijoada:

— Muda a característica de quem sai para consumir. Por ser uma data local, temos menos turistas de fora. Alguns lugares se adaptam para a data.

Show de Jorge Ben Jor

No centro do Rio, houve uma missa campal ao lado Igreja de São Gonçalo e São Jorge, que ficou lotada. Durante a celebração, o cantor Jorge Ben Jor, devoto de São Jorge, subiu ao palco para cantar “Jorge da Capadócia”.

— Aqui empregamos 12 pessoas durante o ano. Quando chega a festa do padroeiro, triplicamos o número de funcionários, além da contratação de empresa para construir o palco com iluminação e som — disse o padre Wagner Toledo.

Mesmo sendo feriado, algumas lojas da Rua da Alfândega abriram para aproveitar o movimento. As barracas de ambulantes também competiam pela venda de camisas, fitinhas, bonés e até a planta espada de São Jorge.

A lanchonete que funciona em frente à igreja, que estava aberta desde as 6h de anteontem, não tinha hora para fechar ontem. O faturamento é de pelo menos R$ 60 mil, o equivalente a um pouco mais de três meses de trabalho.

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