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Diretora lança documentário sobre Dorival Caymmi: ‘quero contar o que as pessoas não sabem’

No documentário “Dorival Caymmi — Um homem de afetos”, o mestre baiano diz que gosta de ser chamado de “o nosso Caymmi”. É como se o compositor pertencesse aos que o admiram.

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Em outro momento, demonstra admirar a si próprio, mas a partir das demais pessoas. “Eu, vaidosamente, gosto de mim. Não vai egoísmo nisso, porque eu aprendi a gostar de mim gostando de outros. É como se aprende a gostar.”

Esse Caymmi afetuoso, mas sem afetação, é o que a cineasta Daniela Broitman buscou para o seu longa-metragem, que estreia nesta quinta-feira (25) em circuito comercial nos cinemas. No dia 30, completam-se 110 anos do nascimento do compositor, que morreu em 2008.

— Quando se faz um filme sobre pessoas muito conhecidas, é difícil falar algo novo. A minha primeira regra foi: quero coisas inéditas, contar algo que as pessoas ainda não saibam sobre Caymmi — explica ela, também diretora de “Marcelo Yuka no caminho das setas”, sobre o músico carioca.

Acervo precioso

Para realizar seu objetivo, uma conquista foi fundamental. Daniela chegou a uma entrevista de 1998 que nunca havia sido mostrada. Era de uma produtora de comerciais e filmes já extinta. A captação foi em película, mas só existia uma cópia digital em péssimo estado. A equipe de finalização teve de salvá-la e deixar do jeito que a diretora desejava.

— Não queria filme televisivo, mas cinematográfico, com acabamento e cores de cinema, para propiciar uma experiência de imersão. É para entrar na atmosfera do universo de Caymmi — diz.

A entrevista é quase uma conversa informal, ocorrida na casa de Marcelo Machado, grande amigo de Caymmi. O compositor comenta algumas de suas músicas, como “O vento”, que abre e fecha o documentário.

— Eu me arrepio a cada vez que ouço essa música. Senti que ela era importante, porque é ligada aos pescadores, aos elementos da natureza e, logo, à religiosidade do candomblé. É uma canção que resume muito Caymmi — acredita Daniela.

A diretora diz que não queria um filme de especialistas falando de um artista. Foi buscar materiais como o de um ensaio de Tom Jobim com Caymmi, na casa do maestro, para um show que fizeram com suas famílias. Trechos desse ensaio já tinham aparecido em filmes, mas ela viu todo o material bruto para escolher outros.

— Achei cenas que, tecnicamente, não são tão bem acabadas, mas que eram inéditas — conta. — Tem a espontaneidade, a alegria deles, a intimidade. Minha sensação, que quero passar ao público, é: estou ali com eles.

De perto

Para fazer um filme sobre alguém que, na sua opinião, “transborda afeto”, Daniela precisou ser acolhida por pessoas próximas de Caymmi, a começar pelos filhos. Nana, Dori e Danilo deram depoimentos, combinando humor e emoção. Histórias das amantes do compositor também são atrativos. E há a briga com Nana, que resultou em um afastamento de sete anos.

— Por trás do cantor, compositor, pintor, ainda tem esse homem complexo, com luz e sombra, questões de família, questões de saúde, como qualquer pessoa. Queria poder humanizar Caymmi, botá-lo aqui do nosso lado — destaca a diretora.

Ela incluiu apenas duas pessoas não tão ligadas ao cotidiano do artista: Caetano Veloso e Gilberto Gil — que foi genro de Caymmi nos anos 1960, quando morou com Nana. O motivo principal é a admiração dela por ambos — além da admiração deles mesmos pelo homenageado.

Caetano afirma no filme que seu conterrâneo Caymmi “é a maior figura da música popular brasileira de todos os tempos”.

Conexão pessoal

O documentário estreou em 2019 no É Tudo Verdade e foi apresentado em festivais em outros países. Era para ter entrado logo em circuito comercial, mas veio a pandemia e, depois, o governo de Jair Bolsonaro, período em que o ritmo de lançamentos diminuiu muito.

Mas a história começou em 2015, quando uma advogada convidou Daniela para produzir um filme sobre Caymmi. Acabou que a cineasta paulista — também jornalista e que morou 20 anos no Rio — se tornou a diretora. Sua vida estava marcada pelo compositor desde a infância, quando ouvia os discos postos por sua avó lituana Gitke, chamada no Brasil de Geni e que está com 97 anos.

— Intuitivamente, eu sentia que eu não ia produzir o filme, que eu ia dirigir — recorda. — Era como se aquele material falasse muito comigo, com a minha memória afetiva. Sentia Caymmi muito próximo, me guiando, me mostrando o caminho.

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