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Morre bebê palestino ‘resgatado’ do útero da mãe após ataque israelense em Gaza; vídeo

O bebê palestino “resgatado” com vida do útero da mãe, morta durante um bombardeio em Gaza, não resistiu e faleceu dias após o bombardeio israelense à cidade de Rafah, no sul do enclave palestino. A morte foi confirmada pela rede britânica BBC.

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Na madrugada de domingo, uma cesariana realizada às pressas havia salvado a vida da filha de Sabreen al-Sakani. A jovem não resistiu aos ferimentos, mas resguardou a vida da filha no ventre. Um vídeo que circulou nas redes sociais mostrou o momento em que profissionais de saúde atendiam a recém-nascida e usavam uma bomba manual para empurrar o ar até seus pulmões.

A jovem Sabreen al-Sakani, mãe da recém-nascida, estava com sete meses e meio de gravidez. Apesar de ter passado boa parte da gestação sob a incerteza do conflito, a expectativa era de que pudesse superá-lo. Tudo mudou no fim de semana: um bombardeio atingiu sua casa, onde dormia com o marido e a outra filha do casal, a pequena Malak, de 3 anos. Sabreen teve ferimentos graves, e seu marido e Malak morreram na hora. A jovem chegou a ser levada para o hospital, onde foi submetida a uma cirurgia de emergência, mas não pôde ser salva.

Pesando apenas 1,4 kg, a bebê chegou ao mundo pálida, desfalecida e aparentemente sem vida. Um médico executou suavemente uma massagem cardíaca em seu peito. À rede de notícias BBC, o médico Mohammed Salama, chefe da unidade neonatal do Hospital Emirados em Rafah, disse que a recém-nascida “nasceu com graves problemas respiratórios”. A mãe, ele contou à Reuters, partiu antes de sua chegada.

Sob o corpinho, foi colocado um papel com a identificação “o bebê da mártir Sabreen al-Sakani”. A recém-nascida, batizada em homenagem à mãe, foi então colocada em uma incubadora.

— Esta criança deveria estar no ventre da mãe neste momento, mas foi privada desse direito — afirmou Salama à BBC.

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Malak, que não viu a irmã caçula nascer, já tinha escolhido um nome para a pequena Sabreen: Rouh, que significa “alma” em árabe, segundo contou seu tio Rami al-Sheikh a um jornalista da Reuters. Ele disse que a família era formada por “civis comuns”.

— Meu irmão é barbeiro e costumava trabalhar comigo na loja — disse al-Sheikh sobre o pai da bebê. — Eles eram pessoas felizes, e a garotinha Malak estava feliz porque sua irmã estava vindo ao mundo.

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O ataque aéreo que tornou a pequena Sabreen órfã antes mesmo de nascer também matou outras 15 crianças da família al-Aal, segundo a BBC. Na semana passada, um bombardeio matou ao menos dez pessoas de uma mesma família, incluindo cinco menores com idades entre três e 16 anos.

Quase metade dos 2,2 milhões de palestinos em Gaza foram deslocados para a cidade de Rafah devido ao conflito e às sucessivas ordens do Exército para que deixassem o norte. A região abriga quase um milhão e meio de pessoas, de acordo com as Nações Unidas, e promete ser o próximo alvo dos militares israelenses, sob a alegação de que o local é o “último bastião do Hamas”.

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Uma declaração das forças israelenses encaminhada à rede britânica após a ofensiva de sábado afirmou que “em determinados momentos, as IDF [Forças Armadas de Israel] atingiram vários alvos militares de organizações terroristas em Gaza, incluindo complexos militares, postos de lançamento e terroristas armados”.

Quase 300 corpos exumados

Poucos dias depois, na cidade de Khan Younis, também na região sul da Faixa de Gaza, a Defesa Civil do enclave palestino afirmou que seus funcionários encontraram quase 300 corpos depositados em uma vala comum no Hospital Nasser, alvo de incursões israelenses, após a saída dos militares do complexo hospitalar, no início deste mês.

Na época, o porta-voz das Forças Armadas, o contra-almirante Daniel Hagari, justificou a invasão a partir de “informações confiáveis de uma série de fontes, inclusive de reféns libertados”, de que o Hamas já havia mantido sequestrados no local. Os militares, porém, não divulgaram as evidências.

— Recuperamos 283 corpos de mártires da vala comum no pátio do Complexo Médico Nasser desde a retirada do exército israelense — disse o coronel Yamen Abu Suleiman, diretor da Defesa Civil na cidade, à CNN nesta segunda-feira.

Segundo a Associated Press, as covas improvisadas foram construídas quando as forças israelenses cercaram o local. Naquela época, segundo a agência ao The Guardian, as pessoas não conseguiam enterrar os mortos em um cemitério. Além disso, alguns corpos eram de mortos durante o cerco, enquanto outros corpos eram de pessoas mortas durante a invasão.

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O coronel afirmou à CNN que alguns cadáveres estavam com as mãos e os pés amarrados, além de “sinais de execuções no campo”. Suleiman também pontuou que não era possível determinar se foram enterrados vivos ou mortos. A maior parte dos cadáveres também já estava em decomposição.

O porta-voz da agência, Mahmud Basal, afirmou à AFP que “alguns corpos estavam nus, o que certamente indica que sofreram tortura e abusos”, e a decomposição de alguns corpos também dificultou o processo de identificação. O Exército israelense não comentou o assunto.

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Correspondentes da agência viram funcionários desenterrando restos mortais perto do hospital, enquanto moradores de Gaza se aproximaram para tentar encontrar parentes desaparecidos. Um deles era Um Mohammed al Harazeen, cujo marido despareceu há um mês:

— Ele só saía de casa para conseguir comida e água. Ele desapareceu quando o Exército israelense entrou em Khan Yunis — contou. (Com NYT e AFP)

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