Últimas Notícias

Parque do Bixiga: prefeitura acerta valor para compra de terreno do Grupo Silvio Santos ao lado do Teatro Oficina

A primeira vista da novíssima exposição do Museu da Língua Portuguesa, no centro de São Paulo, oferece um bonito cenário composto por palavras absolutamente triviais da rotina de muitos brasileiros. Fofoca, cochilo, caçula e canjica, entre outros termos, são exibidos impressos em grandes painéis de madeira, ladeados de cortinas de búzios e miçangas. No verso de cada um dos painéis, um espelho serve para que o visitante se veja entre as palavras. Mesclando arte e informação, o cenário inicial da mostra comprova de maneira imagética e verbal que as linguagens africanas são presentes e influentes no português falado no Brasil, até os dias de hoje.

Essa é a tônica da nova exposição “Línguas africanas que fazem o Brasil”, nova mostra que entra em cartaz na próxima sexta, dia 24, e segue até janeiro de 2025. A atração tem curadoria do pesquisador, cantor e compositor Tiganá Santana, que apresenta uma ampla análise sobre como línguas dos habitantes de terras da África Subsaariana, como o iorubá, eve-fom e as do grupo bantu, tem reflexo importante em como os brasileiros comunicam-se: seja pelas palavras, na construção de frases e até na sonoridade de alguns termos.

Apesar da profundidade abordada no tema, a mostra tem pegada leve e instalações com projeções em vídeo, intervenções sonoras e amplo uso de fotografias que miram na presença de signos e códigos africanos no Brasil. A estratégia de diluir o conteúdo denso em ambientes de grande apelo visual e tecnológico, explica Tiganá, foi uma das preocupações da curadoria.

— Há vontade de trazer um volume de informações das quais boa parte da população brasileira é privada desde a escola, mas também na família e em outros espaços. O racismo fez com que as pessoas dissociassem o conhecimento dos corpos negros. A ideia era mesmo trazer um conjunto de conhecimentos que historicamente e institucionalmente foi afastado das pessoas — afirma o curador. — Eu sou um artista, então esse lugar de fruição, esse apelo estético, onde repousam saberes também é fundamental (em ser exibido). Não tenho como separar o professor, do pesquisador e do artista não dá pra separar uma coisa da outra.

Entre os pontos altos da mostra há uma interessante instalação em vídeo, chamada Corpo Celeste III, criada pela artista visual Aline Motta, em colaboração com o historiador Rafael Galante. A exibição é feita no chão da mostra, por meio de projeções, grafias de origem africana que são organizadas num círculo dinâmico, que lembra os moldes de um relógio. A obra de arte é originalmente parte do acervo da Pinacoteca de São Paulo.

A instalação é acompanhada por um ineditismo: sua exibição ocorre ao lado dos vídeos de “Corpo Celeste V”, criada para o Museu da Língua Portuguesa, com exclusividade. A novidade mostra provérbios africanos traduzidos para português e exibidos em projeções pela parede.

Outro ponto interessante da mostra está em uma sala dedicada ao uso da fala. Nela, visitantes são respondidos com fotos em grandes proporções, exibidas em uma tela interativa, ao falar em voz alta, palavras corriqueiras do vocabulário que são herdadas de línguas africanas. Algumas são: axé, exu, acarajé e zumbi. A exibição impressiona pela velocidade tecnológica ao comando dos visitantes.

— A atual exposição está dentro de um contexto maior, que faz parte do ciclo inaugurado pelo museu desde sua reabertura. Iniciamos com mostra sobre a língua dos imigrantes, após isso os indígenas e chegamos agora às línguas africanas, com o Tiganá — afirma Roberta Saraiva Coutinho, diretora técnica do museu.

O Museu da Língua Portuguesa fica na Estação da Luz, no centro da cidade de São Paulo, em frente à Pinacoteca do Estado. O museu voltou a funcionar em 2021, após passar quase seis anos fechado por conta de um incêndio que comprometeu amplamente suas instalações. O projeto para a retomada foi elaborado pelo governo do estado de São Paulo e da Fundação Roberto Marinho.

To Top