Investimento

Serra defende autonomia do BC e diz que juros cairão quando condições permitirem

Por Isabel Versiani

BRASÍLIA (Reuters) -Em meio às tensões recentes entre o governo Lula e o Banco Central, o diretor de Política Monetária da autarquia, Bruno Serra, fez nesta quarta-feira uma defesa contundente da autonomia do banco e afirmou que as taxas de juros cairão quando “as condições permitirem”.

Serra destacou que o principal desafio da autoridade monetária no momento é lidar com a desancoragem das expectativas de inflação, questão que, segundo ele, será chave para os próximos meses e trimestres.

“Até alguns meses atrás, os agentes entendiam que a meta era crível, achavam que pelo menos em 2025, 2026, o Banco Central seria capaz de entregar, mas recentemente a gente teve um aumento das expectativas mais longas, que precisa ser compreendido”, disse Serra durante palestra em evento empresarial em Macaé (RJ).

Ele acrescentou que, no fim do ano passado, os economistas de mercado previam que seria possível cortar os juros a partir de junho ou julho para entregar a inflação na meta em 2024.

“O que aconteceu nessa reunião (do Copom da semana passada) é que refazendo as contas, reavaliando o cenário, essas contas pioraram um pouco, vai precisar segurar a taxa de juros por mais tempo”, disse.

Serra argumentou que a diretoria do Banco Central que levou a taxa a 13,75% ao ano é praticamente a mesma que reduziu a Selic para 2% em meio à pandemia, e ponderou que o aperto atual tem se dado em meio a um ciclo global de alta de juros.

“Vamos ter ciclo de flexibilização monetária em algum momento futuro, quando as condições permitirem”, afirmou.

Serra afirmou que não pode haver leniência do BC.

“Um banco central que não tenha credibilidade para entregar a meta, seja lá qual for a meta que lhe for definida, é ruim para a sociedade, é ruim para o governo”, disse, acrescentando que isso aumenta o custo necessário para reduzir a inflação.

AUTONOMIA

Em meio a ameaças do presidente Lula de rever a autonomia formal do BC, o diretor destacou que esse modelo favorece a sociedade ao permitir que a autoridade monetária tome decisões técnicas, sem interferência dos ciclos políticos.

“O Banco Central é para ser uma instituição de Estado, não de governo”, disse Serra .

“A autonomia do Banco Central nos beneficia, beneficia a sociedade, por segregar o ciclo político do ciclo da economia. A economia não obedece ao ciclo político.”

As declarações de Serra se dão após sucessivos ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros membros do governo federal ao nível da taxa de juros, à autonomia do Banco Central e ao próprio presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.

Na véspera, Campos Neto já havia reagido indiretamente às críticas ao falar que a autonomia do Banco Central é importante porque desconecta o ciclo da política monetária do ciclo político.

A nomeação do substituto de Serra, que tem mandato até o fim do mês, está sendo vista como um importante termômetro da relação do governo com a autoridade monetária, em meio a especulações de que Lula pode dar preferência a profissionais de carreira do banco, ou a perfis que se contraponham a Campos Neto, que trabalhou por anos no mercado financeiro antes de ir para o BC na administração Jair Bolsonaro.

(Edição Alberto Alerigi Jr. e Bernardo Caram)

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